Extracto da entrevista de Fernando Ruivo (Professor da Faculdade de Economia de Coimbra e Coordenador do Observatório do Poder Local) ao Diário de Coimbra de hoje. Para ler a entrevista completa clique-se aqui. Confirma de certo modo aquilo que já se tinha dito aqui na sequência da leitura do último ensaio de Alain Minc.
"Diário de Coimbra – Hoje, como é que os jovens escolhem um partido ou uma filiação, como fazem a sua opção?
Fernando Ruivo – A filiação num partido fazem-na por cálculo. Os jotas são pela procura de emprego, o que nos leva a prever a categoria dos políticos que estamos a criar. Escolher um partido, em termos de votação, não se faz muito pela ideologia. Neste momento a ideologia não é crível, estamos num período de transição, faz-se muito mais pela imagem consensual que os candidatos conseguem criar através dos media. É isso que interessa, criar uma imagem, é a mediatização da política, não os conteúdos políticos, mas sim apresentar o produto final bem elaborado. Infelizmente se calhar é isto que se passa em toda a Europa e EUA, é esse processo de mediatização, em que os conteúdos não são bem calculados, o que é mau, mas é uma mudança que temos de reconhecer e que se impôs, é mais um reforço da pessoalização da política."
5 comentários:
É pena que assim seja, mas creio que esta visão será demasiado pessimista e generalizada... Ainda há pessoas que se filiam em "Jotas" por questões ideológicas, por convicções políticas e para fazer parte de um grupo de intenções, desejos e acções comuns. Pelo menos, se eu me juntasse a uma, seriam essas as motivações.
Ora nem mais, Miguel, ora nem mais.
Não invalidando o que a Alice disse, concordo com o Miguel. Aliás, basta ver o que defendem os dirigentes associativos nas universidades. Apenas tentam ganhar visibilidade, a maioria das vezes perante o desprezo da maioria dos estudantes que supostamente representam.
Talvez derivada da minha paixão pela política, fico um bocado chocado, não com o cepticismo aqui presente, pois esse é comum na política (nomeadamente nas correntes teóricas 'realistas'), mas com o cepticismo (e perdoem-me a dureza da expressão) bafiento da retórica que por acaso é da minha faculdade. Há efectivamente pessoas que se filiam por cálculo. É de certa forma natural tendo em conta a lógica em que a nossa sociedade massificada assenta. Porém, a generalização deste fenómeno parece-me errónea. Por essa ordem de ideias caminhamos para um mundo orwelliano que, por muito que me fascine em papel, não me parece concretizável na realidade. Aliás, o próprio Orwell tinha exactamente o intuito de alertar para os perigos dos caminhos que se pareciam tomar seguindo esta linha de massificação social.
Para mim, julgo ser mais um fenómeno ou uma moda, que propriamente uma transição definitiva. Direi mesmo mais: é uma politização da pessoa, naquilo que a política tem de pior, que é a sua própria impessoalidade.
Não é um fenómeno assim tão recente ou temporário. De facto, uma grande parte da actual classe dirigente, com todas as suas putativas "qualidades" e com todos os seus inegáveis defeitos, resulta da tarimba nas Jotas há uns 20-30 anos.
Ainda eu era pequenino e andava pela Faculdade, e assistia à excitação oportunista de muitos jovens "promissores" que jogavam forte o seu futuro numa militância "interessada" e interesseira nas Jotas dos partidos do centro. Um número significativo desses rapazes e raparigas acabou por ter um "justo" retorno desse investimento, governou-se e ocupa hoje lugares "invejáveis" que lhes pagam uma renda e mordomias suculentas.
Não quero com este virulento comentário negar a existência de gente bem intencionada, de jovens que se empenharam e continuam a empenhar-se na política por paixão e por convicção. Bem hajam e que desse capital resulte, dentro de 10 ou 20 anos, uma autêntica renovação dos dirigentes da nossa querida Pátria.
Concordo a 100% com o Miguel.
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