Moral e sociedade

Às vezes, diz-se que já não há moral. Antigamente, respeitavam-se valores como a honestidade, a solidariedade, a amizade, o respeito, a boa educação, a obediência, o pudor, etc. Esses valores estariam hoje em declínio e, portanto, a moral estaria em crise e as pessoas não seguiriam quaisquer normas, quais selvagens e predadores. Não sou tão pessimista. Penso, que a moral não está moribunda, mas os valores de referência mudaram. Hoje dá-se mais importância à liberdade, à autonomia, à iniciativa, ao sucesso material ou profissional, ao individualismo, à cultura, ao prazer, etc. Esta passagem de uma constelação de valores a outra tem diversas e complexas explicações. O triunfo do neo-liberalismo e da globalização, a urbanização, a modificação do papel do Estado nas sociedades, a crise das ideologias e a fixação na democracia tecnocrática terão alguma influência. Não quero aprofundar aqui um tema de tal maneira espesso. Só quero dizer que (a) a moral não morreu, (b) os valores mudaram e (c) os novos valores dominantes não são favoráveis à coesão social. Esta última tese é central. Porque haverá mais liberdade individual mas, também, mais solidão e menos sentimento de pertença a um todo social. Essa perda de integração social, num sentido largo, é, às vezes, compensada através da adesão a micro-grupos, comunidades, seitas, etc.