Portugal está a viver numa espécie de limbo incongruente, disparatado, estupidamente orgulhoso e, sobretudo, caríssimo. O limbo do “FMI ou não-FMI”. As soluções desesperadas para resistir à lógica implacável dos “mercados” são cada vez mais dispendiosas e "criativas": colocação de dívida junto de investidores amigos, encurtamento dos prazos, recompras putativamente vantajosas, etc. Dado o stock de dívida a taxas baixas do passado, o impacto das últimas emissões sobre a taxa média global da dívida pública tem sido algo moderado, pelo que, os actuais 7% (e mais) a 5 e 10 anos não serão dramáticos, mas começam a pesar e não são sustentáveis por muito mais tempo. Um custo médio da dívida dessa ordem de grandeza torna as finanças públicas ingeríveis porque a parte das receitas afectada ao custo da dívida será tão alto que as outras despesas públicas caem por terra. Falo de educação, saúde, justiça, segurança, etc.
Na minha opinião, o Fundo Europeu e o FMI não imporiam muito mais austeridade do que aquela que já está cristalizada no orçamento de 2011. A vantagem seria tranquilizar os credores porque essas entidades disponibilizariam um volume potencial de financiamentos que afastaria um cenário de incumprimento e, por conseguinte, os outros credores internacionais pediriam taxas mais baixas para continuar a emprestar. E nós precisamos de crédito, não para gastar mais, mas para pagar dívidas passadas...
Portanto, a vinda do Fundo Europeu de Estabilização e, eventualmente, do FMI (já se falou num pacote entre 50 e 100 mil milhões de euros, ou seja, até quase 60% do PIB...) só peca por tardia e revela teimosia e soberba, com custos elevadíssimos para os contribuintes. Repito: não me parece que imponham condições materialmente mais gravosas para a maior parte da população do que aquelas que já se encontram no orçamento e nos sucessivos “PEC - Planos de Estabilidade e Crescimento”. Talvez aumentem as exigências de execução concreta dessas medidas. Porém, temo que não estejamos numa posição negocial muito favorável, dado o estado a que as coisas chegaram. Vai ser mais uma questão de “take it or leave it”. E não quero imaginar o que seja o “leave it”!
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