A doença das vacas loucas, a gripe A, o vulcão da Islândia demonstram que há mais conhecimento e instrumentos de medida de fenómenos naturais que podem ter um grande impacto sobre a vida de milhões de pessoas. Mas demonstram também que existem organizações nacionais e internacionais, com escassa coordenação entre elas, que adoptam uma atitude (cómoda) de "risco zero", de que resultam prejuizos e benefícios (veja-se o caso da indústria farmacêutica) para determinados sectores da população e da economia, globalmente injustificados e injustos. Quero crer que os decisores políticos seguem as recomendações de técnicos competentes e independentes, mas parecem fazê-lo de forma cega e incondicional, provavelmente, sem proceder a uma análise mais vasta do binómio risco-benefício. Compreendo que tsunamis, furacões e sismos recentes tenham deixado um rasto de destruição enorme e que, nalguns desses casos, melhor prevenção e acção mais célere poderiam talvez ter mitigado os efeitos. De qualquer maneira, pelo menos uma melhor coordenação entre os vários gestores dessas crises poderia aperfeiçoar e equilibrar as respostas.
Depois, há a reparação dos danos a que normalmente se subtraem as companhias de seguros por tratar-se de eventos de "force majeure" ou "acts of God", expressões deliciosas para fazer a distinção entre risco e incerteza. As seguradoras tendem a cobrir somente o primeiro. Para a segunda, mais uma vez, estende-se a mão aos poderes publicos que é o mesmo que dizer ao dinheiro dos contribuintes. Não me escandaliza nesses casos de "acts of God". O que é mais discutível e injusto é a utilização desse dinheiro para remediar "acts of men", ou melhor: "acts of imprudent, incompetent or corrupt men", sob pretexto da mitigação de "riscos sistémicos" que nada têm de natural.
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