sábado, abril 24, 2010
O regresso do passado em Espanha
Dêem uma olhada ao que se está a passar em Espanha neste momento com o juiz Baltasar Garzón. Paladino da luta contra a corrupção, ele tentou recentemente defender vítimas dos franquistas que cometeram crimes durante e depois da Guerra Civil. Agora está a ser julgado pelo crime de transgressão da Lei da Amnistia. Esta Lei, aprovada em 1977 quando Adolfo Suarez era Primero-ministro, foi concebida como um instrumento de pacificação da sociedade espanhola, permitindo a transição para a democracia. Na prática, baseava-se no perdão de crimes cometidos durante o período anterior à queda do Caudillo. Uma espécie de branqueamento de personagens que assim puderam suavemente encontrar o seu lugar ao sol no novo regime, por vezes nas esferas mais altas do poder, sob a bandeira do PP. Muita gente de esquerda considera que uma parte do que (de mal) se passa na sociedade espanhola, se deve à influência que o franquismo nunca deixou de exercer. Mas o processo de Garzón faz levantar velhos demónios que dividem os espanhóis e que parecem inscrever-se na memória colectiva mais do que em experiências vividas, dadas as manifestações e debates em curso em Espanha neste preciso momento, mobilizando pessoas de todos os credos e gerações. Enterrar traumas debaixo da carpete de um aparente esquecimento não os resolve. Pode, pelo contrário, fazer com que se levantem, em circunstâncias propícias, mais eloquentes do que nunca.
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