quinta-feira, maio 28, 2009

O Professor dos joelhos

Armei-me em adolescente retardado com a mania das vertigens, peguei na moto e fui por ali fora como uma alma alucinada, sabe-se lá para queimar que energias ou para redimir que inquietações. Numa curva mais apertada, não calculei bem o binómio velocidade/inclinação, entrei em fora de mão e amandei um valente trambolhão. Deus nosso senhor devia estar lá por cima a pensar que a minha hora ainda não tinha chegado e safei-me mais ou menos incólume. Um hematomazito nas costas, umas dorzitas musculares, o blusão de cabedal todo rasgado, mas, enfim, podia ter sido bem pior... Levantei-me do asfalto como se nada fosse e, com a eloquência de que fui capaz, tranquilizei os passantes que, solícitos, vieram para me socorrer. Pareciam mais aflitos eles do que eu, coitados.

Passados dois ou três dias, porém, depois do calor da adrenalina, veio-me uma maldita dor no joelho. Como, no fundo, sou um medricas e não suporto as fraquezas, temi o pior: tendões, ligamentos, rótula, menisco e quejandos tornaram-se monstros dos meus pesadelos. Para dissipar as dúvidas e, sobretudo, as dores pedi a um caro amigo, médico recente, que me aconselhasse um Lente em joelhos. A consulta ficou marcada para dali a uma semana. No entretanto, tomei as mézinhas que o bom senso aconselhava quais anti-inflamatórios e pomadas. A coisa persistia mas o herói era eu.

No dia combinado, com cada vez menos dores, lá fui ao Professor dos joelhos que me deu um baile do caraças. Esteve meia hora a falar-me de luz, sombra e penumbra, de efeitos imediatos e latentes, de energia cinética, de um qualquer vago estiramento que se resolveria por si mesmo... E a verdade é que nem me olhou p'ró presunto, nem me tocou (figas canhoto!). Tive de ser eu, meio desesperado, a levantar a pernoca por detrás da secretária e a mostrar o sítio onde doía (ou tinha doído!). E vai daí, o gajo, para acabar em beleza, diz-me, lá do alto da sua sabedoria, que voltasse se, dali a 2 ou 3 semanas, ainda sentisse qualquer coisita. E passa p'ra cá o plim que o resto é conversa. E o que chateia é que o homem tinha carradas de razão e talvez alguns dotes de feitiçaria porque a dor, dali a pouco, desapareceu por completo. E ainda bem. Fiquei satisfeitíssimo. Não me importava nada se todas as minhas maleitas continuassem a resolver-se assim, com tão amenas cavaqueiras.

Todo este arrazoado à parte... estou contente com tão colorido desfecho. Quanto a motos, tentarei não continuar a abusar da sorte, mas não perdi a ideia e tenciono comprar uma novinha em folha porque a malograda foi mesmo à vida, tão amolgada ficou.

1 comentário:

Anónimo disse...

Cruzes canhoto, Miguel!

Cuida-te bem, hombre, cuida-te!