sábado, abril 25, 2009

O 25 de Abril de 1974 está cada vez mais longe na minha história pessoal e na história do meu país. Torna-se cada vez mais um eco ténue e longínquo, uma memória baça de coisas excepcionais de quando eu tinha 13 anos e julgava perceber o que significa mudar. Naquela manhã de sol de uma estranha calma e normalidade na vila onde eu vivia, as coisas começaram efectivamente a mudar. As pessoas precipitavam-se para os quiosques onde chegavam edições sucessivas de jornais vindos à pressa de Lisboa com as primeiras páginas cheias de uma palavra mágica: LIBERDADE. Havia um entusiasmo infantil, uma admiração cheia de esperança, uma sensação inesperada de irmandade. Os dias que se seguiram foram de grande euforia, como quem salta num desconhecido que só pode trazer coisas boas. Essa inocência, essa alienação numa alegria contagiante, a convicção de que se estava a viver um momento único nas nossas vidas e de que a mudança podia ser real e instantânea, fazia-nos levitar por cima dos grandes interesses que já se jogavam. Debaixo dos sonhos e da insensatez do zé povinho perfilava-se a dura e incontornável realidade dos interesses, da ordem e das instituições. E a democracia normalizou-se e a economia voltou aos canônes do mercado e da livre iniciativa e os militares regressaram aos quartéis sem guerras para lutar e os ricos voltaram do Brasil e os novos-ricos esfregaram as mãos de contentes com o dinheiro da Europa e as auto-estradas e as pontes construiram-se e as universidades encheram-se de candidatos a doutores sem cultura nem emprego e as Câmaras Municipais investiram e investiram nas vésperas das eleições, muitas vezes sem rei nem roque, e os Presidentes das Câmaras eternizaram a distribuição de benesses aos amigos.

E pronto: o 25 de Abril foi o pequeno sobressalto que libertou Portugal da letargia de um sistema anacrónico e que o colocou na via do desenvolvimento possivel, dados a nossa geografia, a nossa História e, sobretudo, os nossos genes. Por isso, o 25 de Abril se torna cada vez mais um eco ténue e longínquo. Uma demonstração eloquente da fatalidade da realidade que também é feita, porém, de migalhas de sonhos. Só migalhas... Por isso tão preciosas!

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