segunda-feira, março 23, 2009

A inutilidade da poesia

A poesia não presta
Jogo de palavras insinuantes
Devaneio de pessoas instáveis
Sem sentido prático
Ansiosas
Com a cabeça nas nuvens
Irresponsáveis
Inúteis

A poesia serve apenas para esconder cobardias
Fraquezas
Ruínas
Desilusões
Lágrimas
Ou
desejos inconfessáveis
Alegrias patéticas
Milagres
Visões de um mundo fantástico por medida

A poesia não é coisa séria
Emaranhado de becos sem saída e ruas obscuras

- calçadas húmidas de cristal
De decisões impossíveis
- porque quem decide não é sensível

- fractura
Rasteira a egos delicados que não se rendem
À planura dos manuais de procedimentos
À banalidade da origem e do destino
Das horas marcadas e das coisas irremediáveis

A poesia é uma enchente de um rio sem margens
- porque as margens são a morte
Actual ou adiada
E com a poesia não se morre
- porque as palavras que dançam não morrem
- continuam na sua vertigem

- para sempre
- deslumbradas por conjugações improváveis
- a cantar coisas sem nexo
- naturalmente
- porque a poesia não tem nexo

A poesia é o cansaço de escrever
A querer mais
Sempre mais
A raiva de ser desviado da magia pela sobrevivência
Ou pelo bom senso
- buraco de gente parada no futuro

A poesia é uma fissura breve no cansaço de viver

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