quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Carta a um grande amigo em viagem para a cidade eterna

Carissimo

É assim: começas por subir Via Veneto a partir da Piazza Barberini em direcção a Villa Borghese; aí visitas a Galeria Borghese onde encontras, entre muitas outras obras, esculturas lindíssimas de Bernini; depois, segues pelos jardins em direcção ao Pincio; daí tens uma vista magnífica sobre a Piazza del Popolo e os tectos mágicos de Roma; segues para Trinità dei Monti; do cimo tens à tua frente a mui elegante Via dei Condotti; desces e chegas a Piazza di Spagna; continuas em frente pela dita Via dei Condotti; mas depressa, para evitar tentações consumistas que nesse sítio saem verdadeiramente caro (Gucci, Prada, Valentino, Cartier, etc.); no cruzamento com Via del Corso viras à esquerda e vais até Piazza Colonna onde também se encontra o Palazzo Chigi onde se senta actualmente o impagável Silvio; continuas alguns metros na Via del Corso em direcção a Piazza Venezia e viras à esquerda para ir à Fontana di Trevi (não esqueças de atirar uma moedinha de costas enquanto pensas um grande desejo...); depois regressas a Via del Corso e continuas até Piazza Venezia; tens à tua frente o Altare della Patria (a bem dizer um mamarracho) que inclui o Ottaviano, por detrás do qual tens o Campidoglio (onde está instalado "il Comune"); daqui desces até Via dei Fori Imperiali; podes visitar as ruinas ou vê-las à distância enquanto prossegues para o Coliseu que ficará à tua frente, cada vez mais imponente; depois da visita ao Coliseu regressas ao centro, caminhando ao longo do Circo Massimo; ao fundo, encontras a Bocca della Verità (não deixes lá o braço prometendo fidelidades improváveis); daí vais ao longo do rio Tevere até encontrares uma ponte que te leva a Trastevere, o bairro mais castiço e popular da cidade, onde te podes perder de várias maneiras, incluindo as melhores; recomendo-te Piazza Sta Maria in Trastevere e todas as ruinhas à volta, não esquecendo uma livraria especial que se chama Bibli; atravessas de novo o rio pela ponte Cestio, ao lado da Isola Tiberina (onde ainda resiste um velho hospital), e continuas a direito até chegares a uma rua comercial que te leva a Campo dei Fiori; aí encontras uma estátua do meu caro amigo Giordano Bruno (que o Papa de então mandou queimar por não renunciar às suas convicções) e onde se realiza um "mercatino" delicioso ao sábado de manhã; também há muitos restaurantes e bares e geladarias; ao lado de Campo dei Fiori, na direcção do Tevere tens a Piazza Farnese onde se encontra o palácio com o mesmo nome que é a embaixada de França; volta para Campo dei Fiori e vira à esquerda para Via del Pelegrino onde podes ir a um fascinante "locale" árabe; a seguir dirige-te a Piazza Navona, uma das mais belas praças do mundo (na minha modesta e tendenciosa opinião); senta-te numa esplanada, toma um Proseco e goza o que está e o que passa; depois, com calma, vai até à Via dei Portoghesi; isso mesmo: rua dos portugueses onde encontrarás uma igreja magnífica chamada de S. António dos Portugueses onde se diz a missa na lingua de Fernando Pessoa; nessa mesma rua, há um restaurante que prima pelos anti-pasti pantagruélicos, chamado Orso 80; para sobremesa vai até à Gelateria Gioliti, para os lados de Montecitorio, a praça do Parlamento; ali perto há uma livraria - de que não me recordo o nome - onde poderás encontrar deputados armados em intelectuais; continua em direcção ao Panteon - mais uma piazza deliciosa; a partir daí, atravessa de novo a Piazza Navona até ao Tevere e visita Castel Sant'Angelo, sítio de grandes tormentos durante o governo papal de grande parte da peninsula; a seguir, vai visitar a Capella Sistina e os Musei del Vaticano, mas prepara-te para passar muito tempo numa longa fila ao longo dos muros do micro-Estado que nos quer governar a alma; já agora não percas a Basilica di San Pietro e tenta ver o Papa... porque ir a Roma sem ver o Papa é como um jardim sem flores...

Para comer, prefere as Trattorie. Normalmente come-se bem e barato. Aconselho em especial uma pequena trattoria no Vicolo Rosini junta à Piazza del Parlamento onde se come verdadeira cozinha romana casareccia (deves reservar pelo telefone 06 687 3434). Senão, há um grande restaurante em Via Sardegna, uma perpendicular à Via Veneto, que se chama Il Pomodorino e onde se come muito bem. Para pequeno-almoço, na maior parte dos bares podes tomar um excelente capuccino e corneto (descobrirás do que se trata - basta pedir...).

E pronto. Espero que gostes dessa maravilhosa cidade onde cresci depois de adulto, onde deixei um bocado de mim e de onde trouxe tantas memórias com que me conforto nos dias mais sombrios.

3 comentários:

Anónimo disse...

Roteiro este que pudeste saborear tambem tao poucos dias depois..!!Um grande obrigado e um forte abraCo aqui de Budapeste acabado de me deliciar com um belo gulyás (goulash) cheio de paprika;)

Miguel disse...

Porra... também andas sempre de cú tremido :-)

Alice disse...

Paizinho, esse comentário poderia ser substituído pela simples expressão: "doleur de cotovele" :P