Antigamente, as mulheres não podiam mostrar mais do que os joelhos e uma coisinha de nada da parte de cima das mamas, talvez com uma modesta exibição do desfiladeiro que existe entre as ditas (se estiverem devidamente apertadas... dependendo do tamanho). Estou naturalmente a falar do decote, que nunca excedia limites austeros e que os estranhos podiam abrir, mas só com a imaginação que deus lhes deu. É claro que havia as galdérias e as raparigas do teatro de revista. Essas mostravam muito mais... Os homens íam às primeiras às escondidas, com a saliva a escorrer pelo canto da boca (e não só!), e condescendiam em levar as “esposas” às segundas, para fazer de conta que aquilo bastava e que era uma transgressão consentida e partilhada e que não precisavam de ir às primeiras. Coitadas das esposas cujas testas não deixavam por isso de receber os emblemáticos ornamentos, mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor frequência. As putas eram as outras. E ainda bem. As esposas deviam continuar só isso mesmo. E extremosas mães de família. Havia competências que uma esposa não podia ter, que parecia mal se tivesse, que eram exclusivas das putas. E assim é que devia ser. Para bem da ordem e dos bons costumes e da estabilidade da família.
Agora não é nada disto. Agora deve haver promiscuidade, na mesma pessoa, entre a puta e a esposa e a mãe de familia e tudo o resto. As mulheres de hoje devem ser um autêntico caleidoscópio de talentos e virtudes. Para ambicionarem ser amadas e para o bem da própria família e contentamento dos intessados ou, mais precisamente, do interessado. E chamam a isto libertação sexual e permissividade dos costumes e satisfação, no seio conjugal, de irreprimiveis pulsões outrora redimidas noutros contextos...
Há uns dias passei por uma ruela da Baixinha de Coimbra onde encontrei à venda “cintas”, as saudosas cintas dos anos 50-70. Ou seja: verdadeiros espartilhos que serviam para homogeneizar o corpo feminino entre a barriga e a parte de cima das pernas. Porque era uma vergonha exibir as protuberâncias dessa zona corporal (percebe-se que se encontre aí a génese do contemporâneo problema da anorexia). Os homens podiam reprovar ou, pelo contrário, ter ideias pecaminosas ou desenvolver apetites suspeitos. A qualidade da cinta media-se pela eficácia com que escondia a banha ou a celulite, com que transformava involuntários coirões em Greta Garbos. A cinta obviamente devia apertar, comprimir, esmagar, atrofiar. Os produtos de superior qualidade (e preço) faziam tudo isso com o mínimo de desconforto. Apesar de tudo, imagine-se o que era andar de cinta no Verão com 40° à sombra... Numa certa altura, houve mesmo a febre das cintas espanholas e as nossas mães e avós mais cosmopolitas faziam excursões para ir a Ciudad Rodrigo ou a Badajoz comprar a cinta dos sonhos delas a preços de saldo...
Agora – disse-me a simpática vendedora – só as velhotas é que continuam a comprar cintas e, dada a miséria das pensões de reforma que por aí andam, são produtos de piedosa qualidade e parco preço. “Que se vendem cada vez menos” – rematou com o ar de quem presta um serviço filantrópico à Terceira Idade.
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