sexta-feira, janeiro 25, 2008

O princípio de um romance impossível

Apareceu de óculos escuros na estação depois de uma viagem de combóio de um sítio estranho para outro sítio estranho, o sítio onde nos encontrámos. Ofereci-lhe uma rosa vermelha acabada de comprar oportunamente numa florista ao lado da estação. Tirou os óculos, vi-lhe as olheiras, olhou-me quase com espanto e ficámos aturdidos num longo abraço. De quem espera tanto, de quem sabe vir a ter tão pouco. Dali saimos sem sentido nem destino, levitando. Mais perdidos do que nunca, desesperadamente à procura de emoções e, sobretudo, de carinho. A cidade pouco importava, submersa no cinzento do céu, atapetada de uma humidade viscosa. Entrámos num restaurante, ao acaso, daqueles que aparecem nos filmes, irreal, demasiado bonito. Falámos, rimo-nos, olhámo-nos, tocámo-nos com o olhar, à procura de detalhes que ficariam para sempre, de vestígios de uma história única e talvez absurda. As pessoas à volta não existiam, apagadas pela nossa concentração um no outro. Não podiam perceber a mistura de desejo e de impotência, a raiva de nos separarmos dali a pouco por razões tão óbvias e cruéis. Inevitavelmente.

3 comentários:

Anónimo disse...

O amor e perfeito quando nao e preciso o toque para saber que estamos em casa...
Mesmo a miragem da distancia e da partida fica esbatida quando assim e, porque o que importa e aproveitar cada minuto de tempo partilhado (Carpe Diem?).

Anónimo disse...

é desesperadamente lindo....miguel

Anónimo disse...

se o meu G…
me dedicasse este belo texto de amor
reeditava a nossa história
nada a faria inevitável muito menos impossível!
…faz o mesmo