João é um homem intrigante. Ainda não percebi se é apenas um eterno adolescente ou se é uma pessoa cheia de subtileza. É muito generoso e simpático, educadíssimo, lavado e organizado. É sensível e concede uma atenção quase aristocrática às pessoas que estima. Ainda não percebi este conceito de estima aplicado ao João. Porque os seus sentimentos parecem penas de pássaro ao vento. São leves, transparentes e efémeros. João não se pega a ninguém nem a coisa alguma. Tem medo de compromissos que vão para além da mais pura conveniência individual, do jeito que se faz, do prazer que se pode sentir.
Não deixa nada ao acaso. A sua casa mais parece uma suite de hotel, sem memória, sem vestígios de vidas precedentes, de viagens ou de afectos, sem fotografias. Mas, é elegante e limpa e bem cheirosa. Acolhedora talvez seja dizer demais. É sem duvida funcional. Eficaz. Tem tudo o que é preciso, no sítio certo, funcionando como um relógio. É a casa de quem parece estar sempre de passagem, sem deixar testemunhos.
A cultura do João é a da CNN e a dos museus de arte moderna que se visitam para pronunciar a frase judiciosa ao jantar com os intelectuais - supostos ou autênticos - que é de bom tom frequentar.
João não tem filhos nem mulher. Nunca se casou nem se divorciou. Nunca fala dos pais ou de alguém da família. Não tem história. Tem apenas presente e veste-se de teenager. Um presente frio, tranquilo, certo, previsível. Nunca vi o João irritado ou claramente alegre. As emoções são filtradas, contidas, disciplinadas.
Deve ser interessante perguntar ao João se é feliz. Talvez não saiba responder porque talvez não perceba a questão...
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