quarta-feira, dezembro 26, 2007

L'Ètat c'est moi


Sarkozy prossegue na construção do mito "people". Origens modestas, ascenção meteórica, vida sentimental atribulada e colorida, ambição desenfreada, chegada ao mais alto cargo do Estado francês. E continua a dizer que defende os pobres com qualidades de trabalho, que pretende recompensar o esforço e a iniciativa, combater os privilégios e as mordomias, que está próximo da gente comum, daquela gente que compra as revistas côr de rosa, onde ele aparece regularmente na plenitude dos seus excessos. Tem poder, responsabilidade, mas permanece como qualquer mortal, vulnerável ao desvario, à paixão, ao pecado. A popularidade de Sarkozy provém da pitada de excentricidade que coloca no exercício hiper-activo do poder.

O mais recente contributo à composição da personagem é o namoro com Bruni, a franco-italiana, belíssima modelo e actriz, com que se passeou na Eurodisney há alguns dias, para gáudio dos jornalistas de várias confissões. E isso apenas 2 meses após o anúncio oficial do seu divórcio de Cecilia... E vão passar o fim-de-ano numa suite de um deslumbrante hotel de 5 estrelas no Egipto, em anticipação de uma visita oficial a esse país que começa na próxima Segunda-feira. Utilizando o jacto privado de Vincent Boloré, um amigo que é, ao mesmo tempo, um dos homens mais ricos de França.

Essa falta de vergonha em relação à promiscuidade entre público e privado, entre funções de Estado e vida sentimental, a falta de fronteiras entre essas esferas des-sacraliza o poder e torna-o acessível a todos os voyeurismos. Com Sarkozy, a função de Estado é ele próprio, personagem inteira e, que se pretende, desejada, sem compartimentos. De uma certa maneira, trata-se de um retorno à famosa máxima do absolutismo tão francês: "L'Ètat c'est moi".

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