domingo, janeiro 27, 2008

The Economics of Public Spending

Este é um livro herético (clicar no título) que diz coisas como estas: o défice do sector público faz bem ao sector privado, faz baixar a taxa de juro, estimula o emprego, tem um virtuoso efeito contra-cíclico, etc. Num tempo de obsessão pelo défice zero, de contenção da despesa pública (afectando as despesas sociais), são mensagens claramente a contra-corrente. Trata-se de uma "reabilitação" das teses keynesianas (e marxianas) e de uma crítica feroz à ortodoxia liberal que demoniza o Estado. Basicamente, trata-se de inverter a lógica dominante: produzir só é possivel com recurso a dívida; o crescimento não pode depender da poupança; esta é um resíduo de um circuito em que o consumo tem um papel central; a dívida é paga pela produção que financia e a poupança não é senão dívida renovada. As despesas do Estado são output das empresas privadas e, portanto, favorecem os lucros, os quais podem auto-financiar o crescimento sem que as empresas recorram ao mercado de capitais, isto é, sem provocar pressão sobre as taxas de juro.

A aversão ao Estado serve a globalização porque alarga as oportunidades de negócio do sector privado, sobretudo, das empresas transnacionais. As receitas convencionais do FMI e do Banco Mundial, do chamado "Washington consensus" (défice zero, privatização, desregulação) beneficiam essencialmente esses protagonistas da nova (des)ordem mundial. O preconceito de base que inspira esta doutrina é o de uma fisiológica, intrinseca incapacidade do Estado para funcionar eficientemente, a chamada "State failure" da Revolução Neo-liberal dos anos 80.

1 comentário:

Gonçalo Rodrigues disse...

Greenspan escreve algo no seu livro que estava na minha ignorância: a primeira, ou a mais importante das primeiras, políticas que credibilizou o Keynes foi um corte fiscal elaborado pelo presidente Kennedy no valor, a preços correntes, de todos os 3 cortes executados pelo George W. Bush(sem contar com este último que já é o quarto, penso eu). Kennedy foi assassinado, mas Nixon levou essa política ao congresso, onde foi aprovada. A economia começou a crescer a 6% e de forma sustentável.
O problema é o tipo de défice em Portugal. O défice bom é o que cria emprego e crescimento/desenvolvimento, não é o que gasta recursos ao Estado. Por isso sempre achei um pouco ridículo esse debate em Portugal. Não é deste défice que Keynes falava.

Enfim, nada que não saiba, mas comecei a escrever e já não me "calei".

Abraço