quarta-feira, setembro 12, 2007

A gestão de recursos humanos e o Dalai Lama

Há cursos para ensinar as pessoas com responsabilidades a comportar-se perante os seus subordinados. Por exemplo, você quer dizer a um empregado que não está satisfeito com a sua "performance" ?

[Odeio esta palavra. Poucos sabem verdadeiramente do que estão a falar quando a pronunciam. No entanto é a prioridade das prioridades, a unidade esotérica de medida do valor de cada um, o Santo Graal da produtividade e do "bem estar"...]

Não se diz a um tipo que ele não presta de qualquer maneira. Há maneiras mais ou menos convenientes. Por outras palavras: há uma receita especial de vazelina para que não doa demais ou para que não faça ricochete. Para que não acabe tudo aos berros, à estalada ou no tribunal.

Você quer mandar para a rua um desgraçado que só teve a culpa de ser um alma de deus no momento e lugar errados, porque o mercado isto, porque a concorrência aquilo, porque a tecnologia aquel'outro ? Pois bem, também nessa situação há um "road map", um procedimento, uma abordagem "step-by-step" a seguir, falhas a evitar, uma certa "humanidade" a preservar

[Revoltam-se-me as tripas ao utilizar a palavra "humanidade" neste contexto].

Há eminentes estudiosos que passam a vida a pensar nesses casos e a elaborar teorias sofisticadas àcerca do modo mais civilizado e, sobretudo, mais eficaz (e silencioso) de defender as organizações, libertando-as dos "pesos mortos", dos "casos sociais". Por exemplo, deve-se privilegiar os factos, não se deve questionar a personalidade. O que importa é o que se faz, não o que se é. Porque senão a coisa torna-se excessivamente pessoal e não há nada pior do que tornar-se pessoal (humano?).

É espantosa a engenharia da sacanice na gestão dos recursos humanos. Transformar emoções em factos. Tratar pessoas como simples "inputs", matérias-primas, infelizmente, mais complicadas do que as outras, mas, "hélas", imprescindíveis.

["A razão do nosso sucesso são os nossos colaboradores."]

Igualar motivação a dinheiro que, por sua vez, exige a promoção a qual implica trabalho, muito trabalho que se converte em vida (bio-trabalho). Este é o modelo dominante. Para dizer a verdade, esta é a doutrina em torno da qual se organiza a vida de milhões de seres humanos que acreditam piamente que essa seja a verdade revelada.

Para simplificar, em média, nas organizações há os "high flyers" ou "drivers" do sistema (15%), há os produtores ou "trabalhadores sérios" que fazem o que devem fazer sem demasiadas ondas (70%) e há os "pesos mortos", que desestabilizam, que se aproveitam, que passam a vida a chatear os patrões (15%). Estes últimos são o lixo do sistema, o qual deve ser reciclado ou simplesmente eliminado. As organizações generosas são aquelas que dão oportunidades aos "pesos mortos" para se converterem em "trabalhadores sérios". E basta !

E depois há o Dalai Lama que chegou a Lisboa e disse que, sim senhor, o dinheiro e o poder são importantes, mas o mais importante está dentro de cada um de nós. Pois claro !

1 comentário:

nana disse...

claríssimo.

mas só para alguns....


x