sexta-feira, setembro 14, 2007

Coaching

Agora as pessoas devem "gerir-se" a si mesmas, mal ou bem, mas são elas que decidem, que cometem erros ou acertam. Nas escolhas vitais, como ter filhos ou não ter, como casar ou não casar, como divorciar ou não divorciar. Mas também noutras escolhas importantes, se bem que não vitais, como optar por um curso ou candidatar-se a um emprego ou comprar casa. A liberdade e a independência levam a que as pessoas não recorram, como antigamente, ao conselho ou ajuda da família, do padre ou do professor. Os amortecedores sociais atenuaram-se (mas também diminuiu a pressão e sobretudo a opressão...) e os indivíduos ficaram cada vez mais sózinhos, mais esmagados por um livre arbítrio hiperbólico que têm de exercer continuamente. Acabaram-se as desculpas. A responsabilidade individual é o credo dominante.

A intranquilidade e a angústia que gera essa tendência, porém, reforçam a pertinência de disciplinas como a sociologia, a psicologia e a psiquiatria e criam novas oportunidades de negócio. Começa a estar na moda, por exemplo, o "coaching", indústria subtilmente distinta da psicoterapia, praticada por autênticos sacerdotes da sabedoria hiper-moderna, magos de uma cosmética serenidade. Há pessoas, naturalmente com dinheiro a mais, que pagam a um "coach" para saber como lidar com os filhos, como aturar o marido, como enfrentar o rival no escritório, etc, etc. O que pensar da vida, o que decidir e como estruturar o quotidiano são "actividades" sub-contratadas a especialistas que o mercado produz em abundância. Especialistas que, a peso de ouro, substituem realidades tão obsoletas e malditas como os amigos ou a família.

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