Um caro amigo propôs-me, há alguns dias, a seguinte reflexão:
Há indivíduos que atingem o sucesso, no contexto do sistema dominante, em total coerência com os seus próprios valores. Esses são os líderes consistentes, os arquitectos da ordem existente. Não têm dúvidas àcerca da utilidade ou correcção do que fazem. Existe, nesse caso, uma perfeita sintonia (ética) entre as esferas individual e social/profissional.
Há outros que procuram ou conseguem o sucesso, fazendo porém cedências à sua escala de valores individual, renunciando algumas vezes à própria consciência. Reconhecem a incorrecção dos métodos para atingir o topo, mas mantêm a obsessão de o atingir. Noutras palavras: esses vendem a alma para obter a "glória". São indivíduos torturados, algo esquizofrénicos, cuja inconsistência, mais tarde ou mais cedo, emerge fazendo deles mutantes, vítimas deles próprios e do sistema.
E depois há os outros, os que não vendem a alma, os que não querem os louros do sistema a todo o custo, nem se arrependem ou lamentam por isso. Trata-se de indivíduos que têm uma noção de sucesso vital baseada na coerência com os seus valores, os quais divergem dos valores dominantes. Se vencem no âmbito do sistema - o que acontece raramente - não o fazem à custa da sua consciência e contribuem mesmo para moralizar e humanizar a ordem existente. São precursores, impõem valores mais progressistas. Na prática, ajudam a melhorar o sistema. Neste grupo, também se encontram, naturalmente, os marginais e os contestatários.
Não está mal visto... O debate poderia aprofundar-se indo pelo caminho do necessário equilíbrio (e dos compromissos inevitáveis) entre a integração social (que é um imperativo de sobrevivência) e o direito à diferença individual.
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