domingo, setembro 17, 2006

A tristeza de Antónia

Ao passar por aquela mesma rua, com os mesmos olhos perdidos na felicidade dos outros, só, cada vez mais só e perdida nos seus impasses e na falta de estima por si própria, Antónia ficou segura de estar mais parada na vida do que nunca. Ficou angustiada com a certeza de que voltaria a passar por aquela mesma rua, vezes sem conta, nas próximas semanas, nos próximos meses e anos, ruminando sempre os mesmos pensamentos sombrios. Tentou endireitar as costas, ficar mais altiva, lutando fisicamente contra a resignação e o peso da tristeza. Mas, foi postura que durou pouco. Voltou a caminhar com as costas em arco, vergada. O dia acabava lentamente, as nuvens cada vez mais densas facilitavam o caminho da noite. Talvez chovesse durante o regresso a casa naquela auto-estrada cheia de carros com famílias melancólicas a voltar de férias. Uma criança ensonada e um cão farto da viagem olharam-na com desdém da janela de um carro que ultrapassava. Antónia respondeu com um olhar de ostensiva indiferença.

Chegou a casa, fechou a porta. Já era noite feita. Não acendeu a luz. Ficou no escuro à espera que uma lágrima caisse. Mas, não caiu. Nem sequer uma lágrima. Só o silêncio da solidão de mais um dia.

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