Fiquei imensamente surpreendida ao ler este texto, sabendo que foi escrito por um padre. Este Homem já não me devia surpreender, porque cada vez que leio algo dele denoto uma enorme lucidez e abertura de espírito. Apesar de não ser religiosa, respeito e partilho muitas das coisas que este homem diz.
Desta vez, o Anselmo Borges tenta fazer uma homenagem a um amigo: José María Mardones, resumindo o que este pensava sobre a religião. Deixo-vos aqui os excertos mais interessantes:
(O texto integral está aqui)
«Vimos de um cristianismo de cristandade, com pretensões hegemónicas sobre a cultura, a sociedade e a política, que se julgou detentor exclusivo da revelação de Deus e com o monopólio da salvação: "fora da Igreja não há salvação". Nesse cristianismo, aninhava-se uma concepção objectivista da verdade, que implicava a intolerância frente ao erro e a perseguição e liquidação das pessoas sob o pretexto de erradicar doutrinas falsas. Era um cristianismo de coloração fundamentalista e integrista.
(...)
O cristianismo de cristandade, ao colocar no centro o institucional, o jurídico, o doutrinal e dogmático, marginalizou o primado do experiencial, pessoal e místico.
(...)
A desvalorização dos elementos institucionais e doutrinais deslocará o acento para o Mistério vivo, a interiorização e o sentido pessoal da vida.
(...)»
4 comentários:
A Igreja católica (como outras igrejas que "regulamentam" a espiritualidade e a fé, disciplinando a sua tradução social) é uma máquina institucional, uma empresa, uma corporação com regras próprias e principios hierárquicos bem definidos. As Igrejas são naturalmente instrumentos de poder (temporal) ancorados no poder espiritual. A ligação individual com Deus fica balizada por rituais colectivos, por obediências e fidelidades inter-pessoais. O lado social da experiência religiosa acaba por suplantar o elo único e intimista entre o Homem e Deus.
A adesão a Deus passa a ter muito de mundano, um mecanismo de integração e de identificação com a comunidade que partilha a mesma crença. As práticas religiosas são fortíssimos mecanismos de socialização.
No meio disso tudo, onde fica a transcendência da ligação individual com Deus, onde fica esse diálogo mistico com o que nos supera e explica ?
A alternativa será uma religião sem Igreja que restaure a genuinidade do fenómeno espiritual.
Para mim, a genuinidade do fenómeno espiritual é uma ideia contrária à ideia de igreja...
Como é que pode haver autenticidade na comunicação entre um ser humano e algo transcendente se essa comunicação é feita por um intermediário (religião)?
Por isso disse que a verdadeira religião é individual, implica um diálogo intímo com Deus, é uma religião sem Igreja que cada individuo cultiva à sua maneira.
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