Aqui há uns tempos, misteriosamente, desapareceu de minha casa a factura de um seguro. Vi claramente, com estes olhos que Deus me deu, o mítico documento, tinha a firme intenção de o pagar rapidamente mas, por artes insondáveis, o pedaço de papel extraviou-se para lugar incerto. Corri seca e meca dentro de casa, vasculhei os lugares mais inverosímeis, perguntei às pessoas mais insuspeitas pelo paradeiro da coisa. Nada... Tive de pedir à companhia de seguros uma nova via que, por acaso, ainda não chegou e a data de vencimento está a aproximar-se a passo acelerado e até preciso que os tipos me paguem o custo da reparação de certos estragos que ocorreram na minha casa.
Ontem, quando estava numa reunião, alguém me interrompeu com um telefonema para sugerir uma teoria, no mínimo bastante criativa, para explicar o bizarro desaparecimento. Provavelmente a factura do seguro teria sido "perdida" a limpar o cú... Eu nem sequer teria dado pela rigidez do papel de uma factura em comparação com a suavidade do papel higiénico. O cú já estaria tão calejado ao ponto de ser insensível a essas subtilezas. Como o dos macacos que ficam com uma crosta de tanto arrastar pelo chão...
A provar-se a pertinência de tal teoria, também pode ser que o sistema de esgotos remetesse a factura ao sítio certo. Qual poderia ser esse sítio? Um que eu pudesse frequentar dado que o destinatário/pagante da dita factura sou eu mesmo. Apesar da minha limitada inclinação para actividades piscatórias, lá estaria eu à pesca num qualquer rio imundo onde desaguam esgotos fétidos de um país que despreza o ambiente. Seria lá que, de cana na mão, perscrutando peixes moribundos no meio de cagalhões decompostos, avistaria uma factura "perdida" da companhia de seguros Zurich endereçada a um tipo obcecado pelo pontual cumprimento das suas obrigações monetárias. E então, deslumbrado por tal descoberta, retiraria a factura das àguas acastanhadas com muito cuidado para não rasgar o papel massacrado que colocaria ao sol de seguida. Admitindo que os elementos essenciais do pagamento fossem ainda legíveis, após a secagem do papel, iria então à companhia de seguros. Os empregados começariam por apertar o nariz perante tal bocado de papel nauseabundo. Nem quereriam saber como é que tal cheiro teria ido parar a uma factura normalmente produzida pelo mais asséptico dos sistemas informáticos. Com visível relutância, sem sequer me olharem nos olhos, com receio de descobrirem um perigoso psicopata, aceitariam o pagamento e correriam a arquivar uma cópia de tão insólito documento no mais remoto dos ficheiros. O original acabaria em mais uma sanita, fazendo talvez um percurso semelhante ao que se acaba de descrever, com um desfecho, porém, bem diferente. Pelo menos, assim deixam presumir as teorias da probabilidade e da utilidade. De qualquer maneira, não seria eu seguramente a retirar o papel, ainda mais massacrado, das àguas pútridas de um rio... se mais não fosse porque não é meu hábito pagar as mesmas facturas duas vezes.
Pude portanto deduzir que a engenhosa inventora destas teorias ou me considera macaco, ou pescador de cagalhão. Faz-me lembrar a anedota da lógica: a história do tipo que por não ter papagaio só podia ser paneleiro... Essa contarei numa outra altura dado que, por hoje, já basta de tanta palermice.
Seja como for, fartei-me de rir com o dito telefonema àcerca da possibilidade de uma factura ter servido para limpar o cú e que me inspirou a prosa alucinada que acabo de escrever.
Desculpem qualquer coisita.
1 comentário:
que cromo!
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