Em vários contextos, é-nos impingido que cada cultura/sociedade tem uma ordem própria. Contudo, para mim (e sublinho: para mim), isso não podia estar mais errado. Basta pensarmos que as tradições, os hábitos, as instituições, os ideais, etc, são compostos por pessoas, cada uma com um objectivo diferente, com conceitos e valores próprios. Cada pessoa tem uma visão da sociedade nos seus vários jugos muito individual. Por exemplo, enquanto apoiante de uma determinada corrente de pensamento, tenho um conceito diferente de “perfeição” (sim, porque aquilo que todos procuramos é a perfeição, embora nunca a encontremos) de outro apoiante da mesma. Ou seja, apesar de me identificar com uma determinada ideologia, mais ninguém a interpreta como eu e, é aqui que entram os conceitos de intersubjectividade e subjectividade, já que nada é objectivo e tudo é relativo (uma frase feita que faz sentido).
Assim, todos procuramos coisas diferentes (não necessariamente opostas, podendo mesmo ser complementares) na sociedade em que estamos inseridos, todos a tentamos transformar segundo a nossa ideologia e plano e, é importante referir, não certos ou errados. Então, embora a maioria das pessoas se reveja mais nas sociedades democráticas (para exemplificar), a forma como estas são postas em prática/encaradas, depende da visão de cada um, de cada ser social. Deste modo, como podemos garantir a coesão de qualquer sistema social? Como podemos afirmar que existe (ou alguma vez pode existir) uma ORDEM social, na plena acepção do termo?
Concluindo, o (des) equilíbrio de qualquer sociedade não se fundará na sua própria e inevitável desordem? As sociedades a que chamamos democráticas, ou mesmo ditatoriais, não serão, na prática, anárquicas?
Esta é a minha perspectiva (discutível, claro, não fosse este texto sobre a subjectividade). Deixem a vossa.
7 comentários:
Não é a primeira vez que te referes a esta problemática: essencialmente, a da conciliação entre as convicções do indivíduo e a sua pertença a um grupo.
Parece que és muito ciosa da tua soberania individual, não estás disposta a renunciar à tua especificidade a troco de uma tua contribuição para a eficácia de um grupo com o qual poderias partilhar muito, mas não necessariamente tudo.
És um exemplo típico das pessoas que prezam a sua liberdade, que não aderem facilmente ao rebanho. O problema é que essa atitude traz consigo a responsabilidade. Quem é livre, não depende (ou pretende não depender) de circunstâncias exteriores e, portanto, é responsável pelo que lhe acontece, para o pior e para o melhor...
Existe ainda um outro efeito (colateral) desse individualismo e dessa primazia da liberdade: a solidão! A solidão é o preço que se paga pela liberdade individual. Quem adere a igrejas, hordas, partidos ou confrarias raramente está sózinho. Pode sempre trocar vantagens, amortecer desvantagens, procurar identificações. O caminho dos individuos livres é muito mais penoso. É o da imanência ou da não transcendência. Deixa de existir alguém ou alguma coisa superior para explicar a vida e o mundo. Os individuos livres têm de percorrer a estrada do conhecimento e da vida basicamente sózinhos, num debate nem sempre agradável consigo próprios.
Fico-me por aqui. Espero que aprecies a minha modesta opinião e, já agora, aconselho-te a leitura de Espinoza, filósofo holandês do século XVII (de remotas origens portuguesas)e que defendia o primado da racionalidade para atingir a sabedoria, definida como serenidade e alegria.
Acho que a ordem própria de cada sociedade de que falas é constituída pelos conceitos e valores da maioria. Claro que concordo com o que dizes: "apesar de me identificar com uma determinada ideologia, mais ninguém a interpreta como eu", mas penso que essa tal ordem (e nós em Direito falamos de várias ordens - embora só estudemos uma: jurídica, moral, religiosa, do trato social...) é a tentativa de conjugar o ponto de vista da maioria das pessoas de determinada sociedade, para a regular e coordenar.
Estou de acordo com ambos os comentários.
Em relação ao primeiro, devo dizer que, sim, tenho a noção que esse "individualismo" implica uma responsabilidade, para o bem e para o mal, mas sem essa responsabilidade não me sentiria bem. Eu sou eu e as minhas acções e prefiro arcar com as consequências do que faço ou penso a deixar-me levar por opiniões alheias.
Interessa-me ajudá-la. http://www.professorkaramba.eol.pt/
muito obrigada, mas não preciso;)
delirante o nosso karamba, ou melhor, a personagem que utilizou o karamba para baixar o nível do debate, a que talvez não pudesse chegar
Autêntico caso de FANTÁSTICO, MELGA! (e se fosse FENOMENAL, KARAMBA?)
sentido de humor é que é preciso...
;-)
eu vou um pouquinho mais fundo na análise da mariana: acho que a (des)ordem da própria sociedade é a estrutura dessa mesma sociedade que a suporta. Isto é, tens um mecanismo que regula as acções sociais, que por ser de uma dimensão tão grande quanto a sociedade, é de lenta re-adaptação ou re-estruturação. Isto leva a que não raras vezes restrinja a liberdade de uns. A questão é que esta estrutura enquanto suporte facilita a vida em conjunto (é esse o seu propósito afinal), pelo que a escolha pela independência (sempre relativa) é também não raras vezes sinónimo de solidão e de profundos confrontos filosóficos internos.
Não querendo soar arrogante, é para pessoas como tu Alice, que eu escrevo, e para o qual eu dei o nome que dei ao meu blog. Para essas pessoas que não se limitam a ir no rebanho e que despertam para uma nova vida a cada aurora (peço perdão pelo lirismo, são 5h17 da manhã tenho que ter as minhas distracções).
Já que estamos numa de recomendar livros, eu recomendo o que provavelmente é o meu livro preferido, que também aborda esta temática de que falas no post:
Humano, Demasiado Humano : um livro para espíritos livres - Friedrich Nietzsche
O «professor» (que duvido que o seja mesmo) Karamba (será um nome de origem portuguesa?...) curiosamente, ou ironicamente, defende exactamente o oposto: a confiança em algo exterior ao indivíduo para a resolução de 'problemas'. São vidas. Cada um faz o melhor que quer delas
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