segunda-feira, dezembro 12, 2005

Desejo


Só queria estar de mochila às costas, preparada para subir para o comboio, antevendo a semana que me espera.

Só queria partir para lá só com quem e o que pus na mochila que carrego.


Só queria que o tempo passasse rápido, a correr, até 5ª feira e, depois, fosse lento, muito lento.


E agora lembrei-me de um post do Alexandre, em Abril, que se adapta muito bem a isto tudo:


(...)Lembra-me que para chegar a algum lado deixamos sempre marcas no percurso - seja geográficamente, ou no meu caso, no corpo. Levar a mochila ás costas para um sítio que desconhecemos e fazer da inabitada montanha a nossa casa dá-me um sentido de liberdade que eu não consigo obter na civilização. Percorrer toda uma rota até chegar a aquele cantinho no meio do nada, apenas com a mochila ás costas e a guitarra na mão, é a melhor sensação de controlo de mim próprio que alguma vez experienciei. Vou para onde quero, embora não saiba para onde vou. Faço a minha cama onde quiser, e tudo o resto serve apenas para embelezar uma paisagem por si só de indescritível beleza: o velho homem sentado á beira da estrada à espera que as suas ovelhas acabem de pastar, os lagartos e os esquilos que parece que correm de um lado para o outro, não o fazem por urgência ou pressa: fazem-no por viverem a vida ao máximo das suas capacidades. A chuva (ainda bem que choveu!) que escorre continuamente pela minha cara lava-me de qualquer pensamento inútil: a meio do percurso, que nunca é meio porque nunca sei onde irei parar, e olhando da serra lá para baixo, para toda uma existência que deixo para trás, tudo o que eu quero é lavar a sujidade da civilização e abrir os poros ao que me rodeia. Trilhos, árvores, animais caçando outros animais, cursos de água: tudo parece que funciona perfeitamente sem a mínima intervenção do homem. E volto também eu ao funcionamento primitivo: não preciso de pensamentos complexos, nem de grandes teorias nem inventar associações sobre seja lá o que for. Estou só, isolado. Não funciono nem de perto a 50% de todas as minhas capacidades. Mas os outros 50% que faltam, não faltam efectivamente. Não preciso deles. Voltar a dar espaço instintos primários foi o que eu fiz. Dormir, comer, beber. Ponho o saco-cama no chão e a fogueira a poucos metros. O resto é apenas belo.(...)

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