Não tenciono
fazer deste post um estudo científico, apenas um breve comentário sobre
algo de que tenho ouvido falar recentemente – mas não tanto como acho deveria
ser: o aumento do suicídio entre homens pertencentes à geração de “baby
boomers” (aqueles nascidos entre 1946 e 1964) frequentemente executivos nos
mais variados campos profissionais. Aqueles que, “visto de fora”, são admirados
pelo seu sucesso profissional, mas que se sentem arrependidos com as escolhas
que fizeram e de as decisões que tomaram ao longo da vida. Infelizes por lhes
faltarem as coisas que valem realmente a pena e, frequentemente, com um enorme
sentimento de culpa por reconhecerem que são eles próprios os responsáveis por
essas mesmas escolhas. Aos olhos dos de fora eles têm tudo, para eles perderam
tudo o que realmente importava...
Vivemos numa
sociedade em que criaturas tipo Donald Trump são idolatradas, em que as
doutrinas defendidas por Ayn Rand são cada vez mais admiradas, uma
sociedade onde o sucesso é uma função directa dos nossos trabalhos e dos nossos
salários, sucesso esse que é então medido pelos nossos “brinquedos”: a casa
onde vivemos, o carro que temos na garagem e o tamanho da dita cuja, os gadgets
com que nos andamos por aí a pavonear que só podem ser de última geração, os trapos com que cobrimos o corpo
e os acessórios com que nos apresentamos ao público. É deste modo que somos
julgados. Vivam as aparências!
Mas a realidade,
para muitos, é outra. Por detrás da cortina de fumo temos seres humanos (com
tudo o que isso implica) que cairam nesta ratoeira quando eram jovens e agora
não suportam a solidão e as escolhas que fizeram. Até que chega a altura em que
estes “ homens de uma certa idade” olham para trás e para tudo o que perderam,
para o que têm agora, para a reforma cada vez mais perto ... e ou vêm um
monstro quando olham para o espelho ou então perguntam, simplesmente, “For
what?” E pior ainda, é reconhecerem que não podem voltar atrás e viver as
mesmas oportunidades com escolhas (e resultados) diferentes. Misplaced
priorities. O resultado é a patologia da solidão, o desespero...e uma tragédia.
Um estudo que me despertou particularmente a atenção (talvez por lidar com eles
diariamente) foi sobre o aumento do suicídio entre bancários de meia-idade.
Pessoas, em princípio, bem sucedidas. Vou passar a olhar para eles com outros olhos,
talvez mais como os seres humanos que são (a tempo inteiro) e menos como as víboras
que aparentam ser (em regime de part-time).
Claro que não são
só homens de meia-idade que sofrem. Muitas mulheres também passam pelo mesmo,
mas tudo aponta para maiores índices de suicídio entre homens de meia-idade, do
que entre mulheres do mesmo grupo etário. Isto porque, aparentemente, o “sexo
fraco” tem mais “coping mechanisms” do que o sexo “forte” e uma maior
capacidade de adaptação. Além disso (e isto, para mim, é o factor mais
perigoso) ainda existe um estigma muito grande associado à depressão, sobretudo
por ainda ser visto como um sinal de fraqueza (coisas de hormonas, neuroses e histerias
próprias de mulheres “sentimentais”). Daí a vergonha, o silêncio...e o
perigo. O problema é de tal dimensão que
há quem lhe chame “epidemia silenciosa”.
É importante
deitar abaixo as defesas e procurar auxílio. Estamos todos juntos nisto.
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