domingo, junho 09, 2013

Factores responsáveis pelo aumento do suicídio entre homens de meia idade

Não tenciono fazer deste post um estudo científico, apenas um breve comentário sobre algo de que tenho ouvido falar recentemente – mas não tanto como acho deveria ser: o aumento do suicídio entre homens pertencentes à geração de “baby boomers” (aqueles nascidos entre 1946 e 1964) frequentemente executivos nos mais variados campos profissionais. Aqueles que, “visto de fora”, são admirados pelo seu sucesso profissional, mas que se sentem arrependidos com as escolhas que fizeram e de as decisões que tomaram ao longo da vida. Infelizes por lhes faltarem as coisas que valem realmente a pena e, frequentemente, com um enorme sentimento de culpa por reconhecerem que são eles próprios os responsáveis por essas mesmas escolhas. Aos olhos dos de fora eles têm tudo, para eles perderam tudo o que realmente importava...

Vivemos numa sociedade em que criaturas tipo Donald Trump são idolatradas, em que as doutrinas defendidas por Ayn Rand são cada vez mais admiradas, uma sociedade onde o sucesso é uma função directa dos nossos trabalhos e dos nossos salários, sucesso esse que é então medido pelos nossos “brinquedos”: a casa onde vivemos, o carro que temos na garagem e o tamanho da dita cuja, os gadgets com que nos andamos por aí a pavonear que só podem ser de última geração, os trapos com que cobrimos o corpo e os acessórios com que nos apresentamos ao público. É deste modo que somos julgados. Vivam as aparências!
 
Mas a realidade, para muitos, é outra. Por detrás da cortina de fumo temos seres humanos (com tudo o que isso implica) que cairam nesta ratoeira quando eram jovens e agora não suportam a solidão e as escolhas que fizeram. Até que chega a altura em que estes “ homens de uma certa idade” olham para trás e para tudo o que perderam, para o que têm agora, para a reforma cada vez mais perto ... e ou vêm um monstro quando olham para o espelho ou então perguntam, simplesmente, “For what?” E pior ainda, é reconhecerem que não podem voltar atrás e viver as mesmas oportunidades com escolhas (e resultados) diferentes. Misplaced priorities. O resultado é a patologia da solidão, o desespero...e uma tragédia. Um estudo que me despertou particularmente a atenção (talvez por lidar com eles diariamente) foi sobre o aumento do suicídio entre bancários de meia-idade. Pessoas, em princípio, bem sucedidas. Vou passar a olhar para eles com outros olhos, talvez mais como os seres humanos que são (a tempo inteiro) e menos como as víboras que aparentam ser (em regime de part-time).

Claro que não são só homens de meia-idade que sofrem. Muitas mulheres também passam pelo mesmo, mas tudo aponta para maiores índices de suicídio entre homens de meia-idade, do que entre mulheres do mesmo grupo etário. Isto porque, aparentemente, o “sexo fraco” tem mais “coping mechanisms” do que o sexo “forte” e uma maior capacidade de adaptação. Além disso (e isto, para mim, é o factor mais perigoso) ainda existe um estigma muito grande associado à depressão, sobretudo por ainda ser visto como um sinal de fraqueza (coisas de hormonas, neuroses e histerias próprias de mulheres “sentimentais”). Daí a vergonha, o silêncio...e o perigo.  O problema é de tal dimensão que há quem lhe chame “epidemia silenciosa”.

É importante deitar abaixo as defesas e procurar auxílio. Estamos todos juntos nisto.



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