quarta-feira, março 20, 2013
A teoria da carneirada
Quanto a pânico... posso assegurar que, mesmo nas instituições financeiras mais respeitáveis e com gente mais qualificada, inspira muitas decisões em momentos críticos. Já assisti a “over-reaction” em várias ocasiões, desde a crise de liquidez do final de 2008 (em que se achava que grandes bancos alemães e franceses estariam à beira do colapso) até ao declínio rápido de certos ratings soberanos (que provocou a suspensão súbita de linhas de crédito de curto prazo a bancos sistémicos desses países), passando pela negociação do “haircut” da Grécia ou mais simplesmente pelos resultados das recentes eleições italianas (levando a uma alteração instintiva dos spreads a pagar pelos devedores dos países periféricos). Os episódios são inúmeros, ilustrando a irracionalidade que acompanha o medo e as estratégias mais infundadas de “salve-se quem puder”. Em situações de grande instabilidade, de excepção ou de rumores catastróficos ou eufóricos, os mercados são essencialmente binários, comportando-se numa única direcção i.e. comprando apenas ou vendendo apenas, dessa maneira hiperbolizando as tendências, criando bolhas ou espirais descendentes. Os mercados reais (por oposição aos estilizados nos compêndios) são estúpidos. Perante uma crescente instabilidade e incerteza, os modelos de mercado estlizados tornam-se obsoletos, fintando uma regulação cada vez menos convicta. Com a maravilha de, apesar disso, permitirem lucros ou perdas fabulosos. Como nos casinos. Por trás dos mercados não estão apenas máquinas ou modelos. Estão operadores que são humanos e, portanto, cuja racionalidade é afectada pela psicologia individual e de massa, pelo medo, pela dúvida, pela ansiedade, pelo entusiasmo, pela fantasia. Não há modelo matemático, por mais sofisticado que seja, que resista a isso. E não é essa natureza humana dos mercados que nos deve impedir de tentar compreender o seu modo de funcionamento, de tentar capturar padrões de comportamento. Dito isto, há uns anos li um estudo do banco central francês que procurava explicar os movimentos a curto e médio prazo das taxas de câmbio. Depois de se render à evidência de que teorias convencionais, como a da paridade de poder de compra, não chegavam, o dito estudo concluia que a teoria com maior capacidade explicativa era, nem mais nem menos, do que “la théorie de la moutonnerie”...
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