quarta-feira, setembro 05, 2012

( D – R ) / Y

A obsessão concentra-se no rácio que serve de título a este post, em que R é a receita do Estado (essencialmente impostos), D é a despesa pública e Y é a produção interna. Queria-se 4.5% no final deste ano; está-se acima dos 5% e a caminhar para mais de 6% no final do ano... A estratégia consiste em aumentar R e reduzir D, esperando que Y não caia (demais). Ora aumentando R ou reduzindo D (sem que seja compensado pelo aumento de outras componentes da procura), provoca-se a redução de Y e reduzindo Y reduz-se R. Ainda por cima, a componente da procura que tem "virtuosamente" aumentado (as exportações) não é geradora do principal imposto (IVA). Contas feitas e por outras palavras: o aumento dos impostos e o corte na despesa implicam na prática um decréscimo da receita através do impacto dos primeiros sobre a redução da procura e da produção que são a base de cobrança de impostos. Assim, haverá uma elevada probabilidade de que o rácio piore, precisamente em consequência da estratégia adoptada para que melhorasse. Noutros termos: estratégia a corrigir e previsões a afinar. Os autores desta proeza foram a Troika e os governos que assinaram e executaram até agora o Memorando de Entendimento. E o que aqui se diz vem nos manuais de iniciação à Economia com o nome de “estabilizadores automáticos”.

1 comentário:

Teresa disse...

Que raio de coincidência, Miguel! Enquanto tu escrevias este texto, estava eu envolvida numa discussão muito animada com o meu dentista sobre, precisamente:

http://en.wikipedia.org/wiki/Automatic_stabilizer

Fiquei boquiaberta quando olhei para a hora e dia em que este post foi escrito...