Sou um insuspeito admirador da obra de Fernando Pessoa. Não posso dizer que sou um especialista ou sequer profundo conhecedor, mas foi com grande prazer que descobri, por exemplo, o Livro do Desassossego de Bernardo Soares.
Há muitas banalizações do poeta, transformado em ícone para vender todo o tipo de mercadorias, desde biografias mais ou menos pitorescas, auto-colantes, estátuas e estatuetas, frases avulsas, impressas em papel ou tecido de cores garridas, ementas de restaurantes duvidosamente gastronómicos, etc. Basta abrir um guia turístico da TAP para encontrar as referências mais abstrusas ao pobre Pessoa, elevado ao estatuto de galo de Barcelos da cidade de Lisboa. Se cá voltasse, Pessoa pediria seguramente para lhe mudarem o nome e para respeitarem a sua verdadeira genialidade, em vez de o converterem em objecto de marketing, tantas vezes de mau gosto.
Nos tempos que correm, alguém putativamente “pessoano” descobre no fundo de um baú um pequeno bilhete que o poeta escreveu ao chefe a dizer que chegava mais tarde ao escritório e tal pequena frase torna-se mais uma prova inequívoca do contributo de Pessoa para a literatura universal. Poupem o homem e não venham dizer que também é assim com Beethoven em Salzburg ou com Kafka em Praga ou com James Joyce em Dublin.
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