Nos últimos anos, uma certa recuperação meliante de Keynes pretendeu dar verniz intelectual a simples injecção indiscriminada de dinheiro na economia para combater recessões, reais ou aparentes, e financiar projectos de interesse duvidoso para o crescimento e o emprego. O verniz porém estalou e do que se trata verdadeiramente é de fugir a bolhas sucessivas que se foram acumulando desde os anos 70, em simultâneo com a desaceleração da produtividade, criando uma enorme e preocupante bolha (“the ultimate bubble”): a das dívidas públicas que “seguram” lucros privados que, pelo contrário, se deveriam ter desfeito em perdas igualmente privadas. Tal não tem acontecido a pretexto de uma chantagem que dá pelo nome de "impacto sistémico". O que temos na Europa é um gigantesco “State failure” que foi em socorro de putativos “market failures”. Não se trata porém de “market failure” no sentido conceptual da Economia. Trata-se da concentração de poder e rendas em determinadas corporações que prosperaram à sombra da desregulação, da privatização, da financiarização e da especulação, ancorada em mecanismos (públicos) geradores de “moral hazard”. Esta promiscuidade de “failures” é de grande gravidade porque arruína a própria legitimidade da moldura democrática em que as decisões são tomadas, tendo, em última instância, um impacto devastador sobre cidadãos inocentes e ignorantes. E tudo isto se passa numa Europa mais ou menos fossilizada, cercada por um mundo que percorre uma globalização prenhe de desequilíbrios crescentes e de consequências imprevisíveis.
A obsessão pela estabilidade dos preços interessa a quem controla a oferta (os meios de produção) e a quem é titular de rendas, dividendos e juros. Normalmente, os salários defendem-se melhor da inflação (ou ganham mesmo com a inflação). Mas os tempos da omnipotência dos sindicatos já lá vão…
É preciso não descurar o conceito fundamental de “Civilização”. Fundamental porque coloca o debate no âmbito dos fins. Faz a ponte entre a suposta positividade da Economia (que parece bastar-se a si própria, embutida na ficção de ciência exacta) e o sentido da Economia (político, ético e filosófico).
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