sexta-feira, abril 13, 2012

A propósito de um excelente texto escrito por um bom amigo que não desiste de pensar... "against all odds"

Nos últimos anos, uma certa recuperação meliante de Keynes pretendeu dar verniz intelectual a simples injecção indiscriminada de dinheiro na economia para combater recessões, reais ou aparentes, e financiar projectos de interesse duvidoso para o crescimento e o emprego. O verniz porém estalou e do que se trata verdadeiramente é de fugir a bolhas sucessivas que se foram acumulando desde os anos 70, em simultâneo com a desaceleração da produtividade, criando uma enorme e preocupante bolha (“the ultimate bubble”): a das dívidas públicas que “seguram” lucros privados que, pelo contrário, se deveriam ter desfeito em perdas igualmente privadas. Tal não tem acontecido a pretexto de uma chantagem que dá pelo nome de "impacto sistémico". O que temos na Europa é um gigantesco “State failure” que foi em socorro de putativos “market failures”. Não se trata porém de “market failure” no sentido conceptual da Economia. Trata-se da concentração de poder e rendas em determinadas corporações que prosperaram à sombra da desregulação, da privatização, da financiarização e da especulação, ancorada em mecanismos (públicos) geradores de “moral hazard”. Esta promiscuidade de “failures” é de grande gravidade porque arruína a própria legitimidade da moldura democrática em que as decisões são tomadas, tendo, em última instância, um impacto devastador sobre cidadãos inocentes e ignorantes. E tudo isto se passa numa Europa mais ou menos fossilizada, cercada por um mundo que percorre uma globalização prenhe de desequilíbrios crescentes e de consequências imprevisíveis.

A obsessão pela estabilidade dos preços interessa a quem controla a oferta (os meios de produção) e a quem é titular de rendas, dividendos e juros. Normalmente, os salários defendem-se melhor da inflação (ou ganham mesmo com a inflação). Mas os tempos da omnipotência dos sindicatos já lá vão…

É preciso não descurar o conceito fundamental de “Civilização”. Fundamental porque coloca o debate no âmbito dos fins. Faz a ponte entre a suposta positividade da Economia (que parece bastar-se a si própria, embutida na ficção de ciência exacta) e o sentido da Economia (político, ético e filosófico).

Sem comentários: