Não há diferença mais injusta do que a que resulta da beleza exterior. Pela simples razão de que se tem ou não se tem, porque se nasce com ela ou sem ela. Bem, às vezes pode estragar-se aquilo com que se nasceu ou pode-se de alguma maneira melhorar... caso se tenha dinheiro e paciência para fazer cirúrgia plástica. Mas, as pessoas bonitas, em geral, conseguem mais facilmente os seus objectivos, mais depressa e com menos recursos. As pessoas feias têm de se esforçar para fazer valer os outros talentos, construidos, profundos, intangíveis.
Tudo isto tem a ver com a importância dada pela sociedade ao lado cosmético, aparente e efémero das coisas e das pessoas, com o próprio conceito de mérito, com os ingredientes do sucesso (qual sucesso?).
Outras diferenças (religiosas, sociais, políticas) podem provocar injustiças. O impacto negativo de tais diferenças pode eliminar-se ou reduzir-se através de movimentos sociais, revoluções, outras formas de acção política.
Por sua vez, os efeitos perniciosos da fealdade são mais dificeis de combater. Não estou a ver uma revolução dos feios contra os bonitos. Não estou a ver um decreto-lei a estabelecer medidas de discriminação positiva a favor dos feios, para compensar as vantagens inatas dos bonitos.
Obviamente, a situação de injustiça contra os feios resolver-se-ia através de uma mudança de valores que diminuisse a obsessão pela exterioridade e que levasse as pessoas a privilegiar a chamada “beleza interior”. Mas, temo que, em cada contexto social e em cada momento histórico, o bonito será sempre bonito e preferido ao feio que subsistirá feio.
A arte tenderá sempre a procurar o bonito, apesar de ter a impressão de que existe uma certa “arte do feio”, pelo menos, a avaliar por certas exposições de “vanguarda” a que não se consegue escapar ao visitar certos museus peregrinos, cada vez mais numerosos. E as pessoas até se esforçam por gostar do que é manifestamente feio, por encontrar argumentos altamente sofisticados para justificar a estética da treta. Ridículo.
Pessoalmente, não vejo problema nenhum em gostar de coisas e de pessoas bonitas, tratando-se, porém, de conceitos discutíveis e temporais e lamentando o sofrimento de pessoas feias com outros méritos prejudicados pela fealdade. Como dizia um grande amigo que, de filósofo, tem muito pouco: "Não há bonito nem feio, há apenas belezas diversas". Amen.
1 comentário:
Is beauty really in the eye of the beholder?: http://www.psychologytoday.com/blog/the-scientific-fundamentalist/200804/all-stereotypes-are-true-except-ii-beauty-is-in-the-eye-th
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