segunda-feira, junho 20, 2011
O novo governo
O novo governo parece ter muita técnica e muita teoria e, só na aparência, pouca ideologia. Pode ser bom para credibilizar os esforços que terão de ser feitos para convencer os credores de que não cairemos numa situação tipo Grécia. Mas, a verdade é que a possibilidade de tal acontecer depende, não apenas do que possamos fazer, mas também do contágio da desgraça alheia. Ou seja, não dependemos só do virtuosismo da nossa austeridade, mas também do que possam pensar "os mercados" sobre o impacto dos erros alheios. Os ministros-chave são economistas "mainstream", ou seja, encaram a Economia mais como uma ciência exacta do que como uma ciência social que se faz de múltiplos saberes e sensibilidades. Portanto, a eficiência na execução do Memorando de Entendimento assinado com a Troika estará no topo das preocupações. As preocupações sociais (e políticas) serão talvez protagonizadas por outros governantes. Se forem! Trata-se de gente de gestão, que, no entanto, não é isenta de ideologia. Um dos ministros diz-se admirador de Milton Friedman... A pretexto do saneamento das contas públicas e das contas externas teremos claramente uma viragem no sentido (neo-)liberal: "menos Estado, melhor Estado", aumento da concorrência, primado da eficiência, combate às situações de "renda de situação", liberalização e flexibilização do mercado de trabalho, privatizações, etc. Não se pode dizer que tudo isto venha como uma surpresa. O PSD de Passos Coelho não escondeu a sua veia (neo-)liberal. E os portugueses votaram nele. Acho que o BCE e o FMI vão gostar dos novos governantes. Os portugueses estarão por (quase) tudo para verem uma luz ao fundo do túnel do endividamento e do medo de insolvência. Mas, parece-me também inevitável o aumento da conflitualidade social.
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