Não há problema se a dívida externa for superior a 100% do PIB... desde que os credores achem que é sustentável, palavra mágica que pode querer dizer tanto ou tão pouco. O Japão, a Itália e a Bélgica são alguns dos exemplos de países com dívida superior a 100% do PIB. Nem por isso estão na situação em que se encontram a Grècia, a Irlanda ou Portugal. Donde vem então o problema destes últimos países? Simplesmente, do facto de os credores terem dúvidas sobre a capacidade dessas economias se refinanciarem, ou seja, obterem nova dívida para reembolsar a dívida existente que chega ao seu vencimento. Tais dúvidas acentuam-se quando se presume que nem sequer os juros se consegue pagar sem recurso a dívida crescente. Ora, só se consegue pagar os juros se a taxa de crescimento do PIB for superior à própria taxa de juro. Mas, quando os credores duvidam da capacidade de serviço da dívida, pedem juros mais elevados, o que cria um circulo vicioso ou uma “self-fulfilling prophecy”. Vejamos! A taxa média de juro da dívida externa portuguesa, em termos reais, não andará longe de 4%. A título de exemplo, a taxa nominal de juro dos empréstimos do FMI a Portugal situa-se entre 3.25% e 4.25%. Os empréstimos da UE são mais caros. E as taxas nominais pedidas por credores privados, mesmo a curto prazo, atingem valores acima de 10%... Ou seja, temos de supor que o PIB vai crescer a uma taxa superior a 4% a médio/longo prazo para chegar à conclusão de que o capital em dívida não vai aumentar, ou seja, de que a dívida é sustentável. Acreditam nisso? Eu não (tendo em conta também a performance da nossa economia nas últimas décadas)! Pelo que, restam (a) um calote puro e duro, (b) um calote suave sob a forma de "reestruturação" da dívida ou (c) uma assistência “sustentada” de outros países para substituir os credores privados que fogem a sete pés.
4 comentários:
lindo serviço...
Naturalmente que as coisas mudam de figura se a maior parte da dívida do Estado estiver nas mãos de credores nacionais (Itália e Japão, p.ex°) ou de credores externos (Grécia e Portugal). O segundo caso é muito mais preocupante.
Boa Noite! Como fiel seguidora deste blog, gostava que outras pessoas o tivessem a possibilidade de o conhecerem , portanto vou disponiblizar o link no meu blog. Espero que não haja nenhum incómodo.
Obrigado!
Claro.Ficamos contentes com o aumento da nossa audiência. É bom que as nossas ideias e imagens se éspalhem e, se possível, que suscitem reflexão e debate. Obrigado.
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