Há pessoas que gostam de fazer a gincana das regras. Arranjam situações de favor para si próprias e para os amigos e apaniguados, manipulando, ocultando, seduzindo. E uma vez instalados sugam ao máximo as mordomias e os privilégios. Não se lhes pode chamar criminosos, simplesmente, porque se limitam a navegar nos interstícios da legalidade do sistema. Normalmente, são cuidadosos para não deixar vestígios e contam com a cumplicidade dos membros das corporações a que pertencem. Gente que está acima da crise, que não sofre os efeitos da austeridade, que continua a usufruir benesses escandalosas, em comparação com o sofrimento dos Outros. Os Outros não são de estirpe adequada, não beneficiam de amortecedores ou de protecções de Casta. Os problemas dos Outros nunca têm a gravidade dos problemas dos da Casta. A resolução dos problemas da Casta está à distância de um telefonema ou de uma assinatura amiga e oportuna. Os Outros têm de enfrentar a indiferença ou o desprezo de funcionários frustrados de repartições e serviços onde se sucedem as filas de penosa paciência, de desasossego e tristeza pelos incontornáveis Não.
A exibição de bem-estar pelos rentistas de situação torna-se quase dolorosa, insuportável e susceptível de provocar revolta. Os da Casta com juizo devem disfarçar as vantagens da astúcia ou do nascimento, sob pena de provocarem indignação e revolta por parte dos Outros...
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