quarta-feira, março 09, 2011

Bail-out

A história conta-se muito simplesmente: o Estado emite obrigações e bilhetes do tesouro que são comprados pelos bancos nacionais para vender ao Banco Central Europeu. [Os investidores estrangeiros andam a fugir desde o ano passado da dívida soberana portuguesa.] Quer dizer: os bancos nacionais compram dívida pública, ficando a receber juros de 7%, e vendem essa dívida ao BCE, ficando a pagar cerca de 1%. O saldo de tudo isto traduz-se em ter o BCE a financiar o Estado e, ao mesmo tempo, em cooperação com o mesmo Estado, ajudar a rendibilidade dos bancos que ficam com uma margem de cerca de 6%.

Quem é que falou em bail-out? Será mais um porque o do BCE já cá está... No dia em que o BCE deixar de comprar dívida portuguesa, o refinanciamento pára e os calotes emergem. Quanto mais dinheiro chegar ao Estado, mais credores externos aproveitarão para sair porque o problema é de competitividade a médio-longo prazo da economia portuguesa que cresce (ou não cresce) para gerar (ou não gerar) receitas que permitam reembolsar as dívidas e pagar os juros. "A longo prazo estamos todos mortos" mas o medo do longo prazo pode fazer-nos morrer já...

O problema não é tanto o de stock de dívida mas o da sua sustentabilidade, ou seja, o da possibilidade do seu contínuo refinanciamento. Há países com muito mais dívida em comparação com o PIB (p. ex° Itália e Bélgica) sem o sufoco actual de Portugal porque os credores acham que esse stock de dívida pode ser refinanciado em permanência, ou seja, haverá sempre outros (ou os mesmos) credores dispostos a emprestar para assegurar o serviço da dívida existente a cada momento. [Para não falar em casos como os Estados Unidos cuja moeda é reserva mundial e que portanto tem capacidade para continuar a emitir mais dólares que serão aceites para reembolsar as dívidas US.]

O drama de uma pequena economia altamente endividada e pertencente a uma união monetária e divergente dos restantes membros dessa mesma união é que não tem margens de manobra (como a desvalorização cambial e a inflação) para corrigir o desequilíbrio. A única hipótese é "espremer" a economia real, isto é, pôr os agentes económicos a produzir para vender ao estrangeiro ou a não consumir o que se compra ao estrangeiro. O que é necessário é mudar o rácio balança comercial/consumo interno em favor do numerador. É claro que a solidariedade dos parceiros da união monetária pode ajudar, mas, no médio-longo prazo, os únicos remédios são: aumentar a produtividade ou aceitar o empobrecimento ou a estagnação.

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