segunda-feira, janeiro 03, 2011

O combóio

O que deixei no combóio que se afastava no escuro, sem hesitação, rumo à grande cidade foi mais do que uma pessoa em busca do seu próprio caminho, crescendo e crescendo a cada quilómetro, com a cabeça cheia de esperança, de projectos, de receios e de convicções. O que se foi embora foi uma mão a dizer adeus no meio da multidão, até sempre, heroísmo talvez traído por uma lágrima furtiva (quem sabe?), foram olhos com um brilho certeiro e autêntico, foi uma altivez que me tranquilizou e que me deixou patético, mergulhado na minha caríssima fragilidade e não compreendendo a noite, o trânsito, as pessoas que se cruzavam comigo indiferentes, o frio, as luzes húmidas dos candeeiros. O que se foi embora deixou-me orgulhoso e pequeno perante a grandeza daquele começo. Senti que uma página da nossa história se virava e reli com sofreguidão os últimos 23 capítulos, cada vez mais ridículo nas minhas emoções, porque emoções assim são felizmente ridículas.

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