sábado, setembro 18, 2010

O Papa e o anti-cristo

Bento continua na sua esquizofrenia entre ser Papa e ser filósofo. Ele gostava de ser só filósofo mas fizeram-no Papa. Por isso, tem de se desviar dos livros, da meditação, da escrita para se misturar com o povo, para arremedar uma simpatia que não faz parte da sua natureza. Bento é uma criatura torturada que deambula entre o sorriso que lhe pedem os fiéis e o seu desejo de recolhimento e de ficar mais conhecido pelas tiradas do espiríto. Bento pretende conciliar o poder da razão e do método com a fé. Bento quer racionalizar a fé, o que me parece uma contradição nos próprios termos. A sua mais recente tirada revela uma surpreendente proximidade com o seu inimigo de estimação, Nietzsche. Bento disse em Inglaterra que a democracia não se pode basear apenas no consenso social, mas deve também subordinar-se a uma ordem moral, ou seja, à religião. Assim, seria legítimo resistir a consensos "imorais" sobre temas como a homosexualidade ou a eutanásia. Ou seja: para lá da vontade maioritária do povo é necessária uma autoridade (moral) que ultrapasse essa vontade e que dê fundamentos mais sólidos à sociedade. No fundo, seria necessária uma aristocracia inspirada por deus para manter os alicerces cristãos, pelo menos, do Ocidente. Nietzsche, um dos maiores anti-cristo dos tempos modernos, abominava o poder do povo, que achava medíocre, e apelava ao bom gosto e à superioridade evidente da aristocracia. A democracia puxaria a sociedade para uma média esmagadora que repelia as qualidades das pessoas de bem, os aristocratas, que bania a excepção superior, a qual valia e justificava todos os sofrimentos inferiores.

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