Portugal é uma pequena economia aberta e, portanto, particularmente exposta aos ciclos das economias europeia e mundial. O facto de a recessão global nos tocar não tem nada de surpreendente. Como diria o outro "it's just the economic cycle"... O que choca em Portugal e que amplifica os efeitos da recessão em termos sociais é a profunda desigualdade na distribuição da riqueza e do rendimento e a pobreza dos indicadores de qualidade de vida. Eu bem sei que não há nada de novo no que acabo de escrever. É sabido que Portugal é um autêntico Brasil da Europa, no que diz respeito às disparidades sociais. Mas, não é por ser banal que esta afirmação deixa de ser escandalosamente, vergonhosamente verdadeira. Por detrás dos 0.8% de crescimento negativo do PIB, indicando magicamente o advento de uma profunda crise económica, estão pensionistas com reformas de miséria, um número crescente de desempregados e de trabalhadores com o credo na boca por causa da precaridade dos empregos, cidades cheias de sem-abrigo, centros urbanos a cair de podre, estradas secundárias quase intransitáveis, etc. E auto-estradas reluzentes cheias de carros de alta cilindrada, casas de luxo que não sofrem a crise do mercado imobiliário, hotéis de 5 estrelas a abarrotar, destinos turisticos distantes e exóticos que se vendem como tremoços, etc. E tudo isto não é apenas uma questão de injustiça (o que já seria mais do que suficiente para alertar as nossas pobres consciências...). É também uma questão de ineficiência e de não cumprimento de um dos princípios básicos da nossa Constituição: o da democracia económica. Em vez de gastar rios de dinheiro em obras públicas de duvidosa rendibilidade económica, o Governo dever-se-ia empenhar em medidas de política de redistribuição do rendimento para melhorar o bem estar da população e amortecer os efeitos da crise sobre as camadas mais vulneráveis (objectivo meritório em si mesmo) e impulsionar a procura interna. Medidas como o aumento das pensões de reforma e do salário mínimo seriam muito úteis. Modificação dos impostos, aligeirando a carga sobre os rendimentos mais baixos e sobre as faixas da população com menos possibilidade de evasão. No domínio dos investimentos, haveria tanto a fazer na reabilitação urbana e na manutenção e reparação das estradas existentes.
Porque continuo a pensar que o problema de Portugal não são os portugueses... ao contrário de certos fariseus que por aí andam.
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