O que se tem passado na Geórgia é um episódio da reedição da Guerra Fria. Os americanos querem entrar na vizinhança do ex-império soviético. O acordo assinado ontem com a Polónia para instalar mísseis naquele país, alegadamente para contra-atacar mísseis iranianos, é um outro exemplo. Essas tentativas naturalmente deixam os russos nervosos. Eles, por sua vez, querem reconstituir, sob a égide de uma nova e poderosa Rússia, o antigo império dos sovietes. Têm a força dos preços altos da energia e das matérias-primas (de que são grandes produtores) pelo seu lado, bem como uma liderança forte e agressiva de um senhor chamado Putin que se tem sentado à mesa das grandes democracias mais por conveniência táctica do que por genuína adesão.
O pateta do presidente da Geórgia pôs-se em bicos dos pés (talvez com o beneplácito dos Estados Unidos de que é um peão...) ao invadir a Ossétia do Sul para tentar desesperadamente evitar ou adiar o inevitável. Com isso deu um pretexto aos russos para fazer o que há muito lhes apetecia: marcar claramente o seu poder no território e em toda a região. A Abekázia pode seguir-se, reduzindo ainda mais a superfície da Geórgia.
O precedente do Kosovo é eloquente. Um território de um país, dominado por uma etnia em dissidência com o resto desse país, pode reivindicar a independência. Até se fazem eleições, naturalmente ganhas pelos separatistas maioritários, e depois tem de se proceder a uma purga étnica, mais ou menos “pacífica”, para assegurar a tranquilidade e a pureza da etnia dominante. Na Ossétia do Sul e na Abekázia, a população maioritariamente amiga da Rússia vai de certeza votar a favor da separação em relação à Geórgia e os defensores da democracia terão bem pouco a dizer…
Com democracias fracas - que se sucedem a ditaduras - e com a globalização, as Nações tendem a reivindicar um Estado. Diferentes Nações podem conviver sob um mesmo Estado se este for forte (o que pode ser compatível com uma democracia eficiente) e se existir uma certa continuidade ou consenso cultural e político no âmbito de um certo território, requisito fundamental para manter a solidariedade entre diferentes comunidades.
Aos aspectos políticos somam-se as considerações económicas que aliás marcam sempre as disputas pela hegemonia. Pela Ossétia do Sul e pela Abekázia passam gasodutos e oleodutos estratégicos para encaminhar a energia da Rússia para os mercados de exportação…
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