terça-feira, dezembro 18, 2007

Crises de liquidez

Em última instância, o problema mais grave de um banco é a falta de liquidez. Quando os depositantes batem à porta e não há dinheiro em caixa para lhes devolver a massa, aí é que começa o verdadeiro problema, a falta de confiança e o pânico que se podem contagiar perigosamente a todo o sistema financeiro e, no fim de contas, à economia real. Antes desse ponto, naturalmente, muitas coisas más poderão ter sucedido: crédito mal-parado, falta de fundos próprios, discrepância entre os vencimentos dos activos e os dos passivos, etc. Tudo mais ou menos fruto de incompetência e/ou de imprudência dos respectivos gestores.

O que o Banco Central Europeu está a fazer neste momento, injectando biliões de euros no mercado interbancário de crédito a curto prazo, é evitar a eclosão de crises de liquidez junto de certas instituições (!...), as quais se poderiam espalhar com consequências desastrosas. Essa oferta de fundos levou hoje a uma queda acentuada das taxas do mercado inter-bancário, Euribor. Esperemos que essa terapia seja suficiente para dar alguma margem de manobra aos bancos mais frágeis para resolver os problemas subjacentes e limpar os balanços dos activos "junk". Não estou de acordo com algumas pessoas àcerca da pressão inflacionista desse aumento temporário da componente mais curta da massa monetária. Precisamente, porque se tudo correr bem, é exactamente um aumento temporário, isto é, regressará a breve trecho aos cofres do banco central, uma vez restabelecida a normalidade da liquidez no mercado. Se, no entanto, essa nova liquidez for objecto de sucessivas renovações (revolving), tornando-se de facto permanente, aí o efeito inflacionista pode-se manifestar. Mas, mesmo nesse caso, será moderado porque servirá essencialmente para compensar os efeitos deflacionistas dos comportamentos dos agentes económicos que sofreram as perdas que levaram à crise.

Já imaginaram o que sucederia se milhares de depositantes deixassem de ter confiança nos bancos e se se precipitassem de repente junto das caixas respectivas pedindo o reembolso dos depósitos? Essa situação ocorreu recentemente na Inglaterra com um banco de crédito hipotecário chamado Northern Rock que só não faliu porque o banco central lhe cedeu o dinheiro necessário para pagar aos depositantes. Mas, as filas à porta das agências do Northern Rock duraram dias...

Por mais bem capitalizado que seja, nenhum banco pode, sózinho, pagar instantanemente a totalidade dos seus depósitos. Seria anti-económico dispor de tanta liquidez para esse efeito, a todo o momento. O sistema funciona largamente com base na renovação dos depósitos (novos depósitos que servem para reembolsar antigos depósitos) e isso depende da confiança e do funcionamento normal dos ciclos da poupança e do investimento. Se esses ciclos são interrompidos, por demérito de uma instituição específica ou por contágio de factores sistémicos, o risco de colapso torna-se real e é na vizinhança dessa situação que a intervenção das autoridades monetárias se torna decisiva.

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