quarta-feira, junho 06, 2007

Sítios

Há sítios que são não-sítios. Meros suportes físicos de actividades, pensamentos e emoções que se passam, efectivamente, noutro lado. São espaços a que a alma não se pega. São superfícies lisas, estritamente bi-dimensionais que se poderiam encontrar em qualquer lado. São como folhas brancas em que se fazem esboços que acabam no caixote do lixo. Não têm memória nem futuro. São ubíquos e vazios, simples receptáculos de uma realidade que não deixa rastos, que se troca por outra fungível. Os sítios a que não pertencemos e com que não nos fundimos são efémeros e estranhos. Os únicos sítios reais e duráveis são aqueles em que cresceu o nosso coração ou em que deixámos pedaços do coração. Tudo o resto é global como o que não existe porque está demasiado longe e porque não nos pertence. Os sítios que contam são aqueles que chamamos de amigos ou de amantes. São os sítios com que temos uma relação humana. Amar um sítio faz dele parte da nossa vida, da nossa história. Um sítio onde vivemos longamente mas que não acariciamos com o pensamento e com as emoçóes é como um velho casamento, gasto, que se atura por falta de alternativa à solidão.

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