Tenho a impressão de que a celebração dos 50 anos da RTP se transformou numa enorme e eufórica homenagem à irmandade portuguesa cujas virtudes ultrapassariam classes sociais, actividades, tempos e pessoas. Trata-se de uma eloquente manifestação de nacionalismo, de enaltecimento do putativo cimento que ligaria Salazar a Cunhal, Almada Negreiros a António Calvário, Carlos Cruz a Vitorino Nemésio, a Expo 98 à Exposição do Mundo Português, Eusébio a Sophia de Mello Breyner, etc. E depois, toda aquela passerelle da suposta élite actual, incluindo a recorrente Rosa Mota - ícone do sucesso português no feminino e simpática santinha do altar soarista - e as caras "bonitas" e patéticas que nos enchem o ecrã todos os dias...
Esta chuva de auto-estima Lusíada junta-se a outra iniciativa da RTP que vai mais ou menos no mesmo sentido: o concurso do maior Português de todos os tempos. Isto é, a RTP está cada vez mais transformada em Ministério da Propaganda do regime, em veículo de exaltação do chamado Portugal moderno... O país é grande e coeso, está cada vez mais convencido da sua energia e da sua peculiaridade, vai muito para além das fracturas políticas, sociais ou culturais. Portugal é o futuro e recomenda-se...
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