Por aqui tudo bem. A Primavera começa a dizer que não tarda a chegar. As plantas querem florir a todo o custo. Como as palavras...
A minha tia telefonou a dizer que o gato está bem de saúde. Continua a perder pêlo, mas não deve ser nada de grave. A chatice é a penugem cinzenta que cobre o sofá lá de sala, mas para alguma coisa servem os aspiradores. E depois, o animal é tão simpático e faz companhia, à falta de humanos dignos desse nome. A minha tia está a ganhar caruncho e rabugice, depois de desistir de sonhar por causa de tanto desgosto. Os homens são todos uns malvados...
O meu amigo Jesualdo escreveu-me um e-mail a dizer que depois da Páscoa haverá mais um jantar de antigos colegas do liceu. Não sei porquê depois da Páscoa. Será que o Jesualdo passou a ser penitente? É estranho ver aquelas criaturas nesses jantares, depois de tantos anos, a fazer de conta que o tempo parou ou que andou só no bom sentido. Alguns aparecem com as mulheres vestidas de peruas ou de àrvores de Natal. Estão todos velhos e cada vez mais nostálgicos, agarrando-se a momentos de alegria e de desleixo de há 30 anos. Porra, 30 anos... Uns subiram, outros desceram, uns pararam, outros avançaram. Todos se babam a recordar as bebedeiras inocentes ou as escapadelas voluptuosas no jardim ao lado do liceu. E passam horas a discutir cilindradas e marcas de “topo de gama”.
O meu pai telefonou a dizer que a saúde melhora e que Fulano ou Beltrano (“lembras-te dele?”) faleceu e que foi ao funeral e que encontrou outro Fulano ou Beltrano que também vai morrer daqui a pouco. Também me disse que a conta bancária continua a crescer. Não tanto como seria desejável neste tempo de juros baixos, mas o suficiente para gente avisada e prudente como nós. Porque essa coisa de arriscar na Bolsa não é para quem ganhou o pão com o suor do rosto. E perguntou com a voz embargada quando é que volto. E eu disse que daqui a pouco e que abriremos a garrafa de vinho especial para acompanhar com o cabrito feito pela mãe. E o arroz doce...
A mulher da limpeza telefonou também a dizer que chove na sala e que a porta da cozinha está emperrada e que devo aumentar a mesada porque a vida está cara e as outras “Senhoras” já subiram. E eu agradeci a informação àcerca da chuva na sala e não tenho a mínima ideia de como resolver o problema, a tantos quilómetros de distância. Esperemos que a Primavera chegue depressa e que o Jesualdo me dê uma dica. Ele deve conhecer pedreiros de confiança. De confiança? Já ninguém é de confiança... E disse que – sim senhora! – vou aumentar a mesada, como as outras “Senhoras”, senão a Esmeralda manda-me àquele sítio e eu preciso que ela por lá passe para não deixar o pó e o mofo ocupar aquela bendita casa, onde repouso o corpo e a alma do mal da ausência.
E pronto, por cá continua tudo bem. A Primavera não tarda mesmo a chegar. Ainda não perdi a esperança de que o Benfica ganhe a Taça UEFA e o Campeonato. Ao menos isso!
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