A doença mental gera posições defensivas da sociedade, sendo a atitude de uma cultura relativamente a esta tradutora do seu estado evolutivo. Pelo seu carácter enigmático, desde cedo se procuram as causas do comportamento anormal. Esta busca começa com a demonologia primitiva, que remonta às antigas culturas chinesa, egípcia e babilónia. Nestas, a causa da doença mental era atribuída a um ser maléfico, como o diabo, que “entrava” nas pessoas, controlando-lhes corpo e mente. Entre os hebreus, por exemplo, acreditava-se que a anormalidade se devia à possessão de maus espíritos devido ao facto de Deus ter tirado a sua protecção ao doente.
A esta perspectiva segue-se a somatogénese, adoptada na Grécia antiga com a emergência do humanismo, que passa a procura das causas da anormalidade para o próprio Homem. Neste contexto destaca-se Hipócrates que separa a medicina da religião, da magia e das superstições, encarando o cérebro, pela primeira vez, como o órgão da consciência, da vida intelectual e da emoção. Encara, então, as doenças mentais como patologias cerebrais, classificando-as em três categorias: mania, melancolia e febre cerebral.
Com a idade média recua-se à perspectiva demonológica (!), com a crescente influência e poder das igrejas, que passam a assumir o trabalho de “curandeiros dos doentes mentais”, recorrendo a tratamentos como orações e poções sagradas. No século XIII, portanto, os europeus passam a viver obcecados com a ideia do diabo e amedrontados com a bruxaria (vista como “fruto de Satanás”, heresia e negação de Deus), pelo que, todos os que dela eram acusados, acabavam por ser torturados e executados. A psicopatologia também era explicada, neste contexto, como bruxaria, portanto, o “tratamento” para os doentes mentais era o mesmo. Curioso o retrocesso abismal.
A partir dos séculos XV e XVI, muitos hospitais de leprosos são substituídos por asilos para abrigar e tratar doentes mentais, o que marcou a inclusão dos comportamentos anormais no domínio hospitalar. No entanto, em muitos casos, estes eram misturados com mendigos e pedintes, não recebendo quaisquer cuidados de que necessitavam. A dignificação dos doentes mentais só ocorre pouco depois da Revolução Francesa quando Pinel fica responsável por um asilo parisiense e pede à comuna da cidade autorização para “desagrilhoar os loucos”. Este episódio que marca o nascimento da psiquiatria, é também o início do tratamento moral, pois os doentes passam a ser tratados como tal e passam de celas a quartos, com condições para o tratamento ser possível e digno.
A esta perspectiva segue-se a somatogénese, adoptada na Grécia antiga com a emergência do humanismo, que passa a procura das causas da anormalidade para o próprio Homem. Neste contexto destaca-se Hipócrates que separa a medicina da religião, da magia e das superstições, encarando o cérebro, pela primeira vez, como o órgão da consciência, da vida intelectual e da emoção. Encara, então, as doenças mentais como patologias cerebrais, classificando-as em três categorias: mania, melancolia e febre cerebral.
Com a idade média recua-se à perspectiva demonológica (!), com a crescente influência e poder das igrejas, que passam a assumir o trabalho de “curandeiros dos doentes mentais”, recorrendo a tratamentos como orações e poções sagradas. No século XIII, portanto, os europeus passam a viver obcecados com a ideia do diabo e amedrontados com a bruxaria (vista como “fruto de Satanás”, heresia e negação de Deus), pelo que, todos os que dela eram acusados, acabavam por ser torturados e executados. A psicopatologia também era explicada, neste contexto, como bruxaria, portanto, o “tratamento” para os doentes mentais era o mesmo. Curioso o retrocesso abismal.
A partir dos séculos XV e XVI, muitos hospitais de leprosos são substituídos por asilos para abrigar e tratar doentes mentais, o que marcou a inclusão dos comportamentos anormais no domínio hospitalar. No entanto, em muitos casos, estes eram misturados com mendigos e pedintes, não recebendo quaisquer cuidados de que necessitavam. A dignificação dos doentes mentais só ocorre pouco depois da Revolução Francesa quando Pinel fica responsável por um asilo parisiense e pede à comuna da cidade autorização para “desagrilhoar os loucos”. Este episódio que marca o nascimento da psiquiatria, é também o início do tratamento moral, pois os doentes passam a ser tratados como tal e passam de celas a quartos, com condições para o tratamento ser possível e digno.
1 comentário:
Muito interessante.
Fez-me lembrar o "Bagueiro" ou o "Requitecto", "maluquinhos" de Mortágua e de Condeixa, respectivamente, que podiam contar com a condescendência, simpatia e solidariedade de toda a gente. Eram uma espécie de "outra maneira de ser" de toda a gente ou "aquilo em que todos nos podiamos tranformar" sem saber bem porquê. Penso que os portugueses têm sido tolerantes quanto à integração social daquilo que chamaria a "pequena doença mental". De facto, há pouco tempo uma amiga italiana dizia-me que em Portugal se vêem muitos malucos na rua. Não é que em Portugal haja mais ou menos malucos. A questão é que no nosso país, normalmente, não se escondem os malucos. O que não é o caso em muitos outros países ditos civilizados.
O maior problema, em termos clínicos, éticos e sociais é o dos doentes mentais profundos e do modo como devem ou não devem ser socializados ou isolados... Considerando a sua potencial perigosidade e a radicalidade dos métodos terapêuticos, talvez o internamento (para não dizer, em situações extremas, encarceramento) seja mesmo a opção mais aconselhável...
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