Adoro caminhar na Natureza, nos pinháis ou através dos campos. Sózinho ou em grupo, distâncias que podem variar entre 5 e 20 quilómetros, durante 1 hora, uma manhá ou um dia. Quando há sol ou nuvens. Quando está frio ou calor. Mais chato é caminhar à chuva, mas, dependendo das circunstâncias e do equipamento, também se pode fazer. Caminhar faz bem à saúde e sobretudo à mente.
Quando caminho sózinho, deixo correr os meus pensamentos mais depressa do que os meus passos. Geralmente, não escolho nenhum tema, os pensamentos apresentam-se sem cerimónia e deixo que eles me ocupem o espírito pelo tempo e com o pormenor que desejam. Nessas deambulações, encontro na minha cabeça pessoas e chego a conclusões, por vezes, inesperadas e úteis. É divertido esse diálogo com a reflexão que se torna interlocutor e que se liberta do seu sujeito. De vez em quando, perco-me dos pensamentos, digo-lhes adeus. Eles ficam por sua conta e olho então a paisagem à volta. Com calma, admirando detalhes que antes me pareciam impossíveis ou irrelevantes. Casas, àrvores, colinas, riachos, subidas e descidas, pontes, pedras. O ritmo de uma caminhada não nos deixa passar pelos sítios de repente. Os sítios não são apenas cenário, como quando se vai de carro ou de combóio. Os sítios passam a ser protagonistas, companhia. E parecem sempre diferentes, como as pessoas interessantes de que nunca nos cansamos.
Caminhar em grupo é divertidíssimo. Fala-se, fala-se, fala-se, dribla-se o cansaço, ri-se, pára-se para comer uma bucha ou para comentar um pormenor do percurso, perde-se a noção da distância e do tempo. Fazem-se autênticas cimeiras e assinam-se tratados para decidir, em caso de dúvida, num cruzamento mal assinalado no mapa, qual o caminho a seguir. Discute-se o estado do mundo, os filmes e os livros do momento, esgrime-se política, resolvem-se os grandes problemas da Humanidade, penetra-se nos meandros da filosofia e da natureza humana, explica-se a proverbial e impagável saudade dos portugueses, passa-se por Jean-Marie Le Pen e o populismo na Europa, teoriza-se o futebol inglês e o papel dos russos ricos e do Mourinho, etc, etc. E no fim de várias horas e de músculos doridos quanto baste, chega-se ao ponto de partida onde, normalmente, há um bar ou um restaurante onde se faz questão de restabelecer o stock de calorias.
Caminhar é um divertimento a não perder. Não lhe quero chamar filosofia de vida ou metodologia para viver bem e para pensar melhor, para não parecer pretensioso e para não exagerar a coisa. Não gosto de absolutizações nem de excitações espúrias. Mas, é verdade que grandes expoentes da política, da arte e da ciência, como Rousseau ou Proust ou Churchill, tiveram grande parte das suas mais brilhantes ideias, precisamente, enquanto caminhavam. Eram grandes entusiastas e praticantes da "randonnée", como lhe chamam os franceses. Em França e noutros países europeus como a Alemanha, a "randonnée" tornou-se uma espécie de modalidade desportiva, uma cultura, um hobby de pessoas apaixonadas pela Natureza e pelo bem-estar. Nalguns casos, institucionalizou-se, talvez demais. Mas, não é preciso chegar a esses extremos. Caminhar pode ser apenas uma actividade livre, individual ou de grupo, de puro divertimento, sem grandes regras.
Caminhem e descubram a mística, o prazer e o fascínio de uma das mais elementares expressões da motricidade humana.
1 comentário:
Hiking: one of my fav. all-time activities, a sure-fit way to get rid of the "cobwebs".
Other benefits: http://www.medicinenet.com/script/main/art.asp?articlekey=51002
On my "bucket list": hiking the Grand Canyon.
Teresa (tua colega no D.Duarte).
Um abraco desde o outro lado do Atlantico e parabens por 1 blog EXCELENTE!
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