quinta-feira, dezembro 28, 2006

Incompleteness & sadness

Recentemente, uns amigos estrangeiros visitaram Portugal, passando por Coimbra e pelo Porto. Regressaram dizendo que duas palavras sintetizam as suas impressões da viagem: "incompleteness" e "sadness". Isto é: este país seria triste e inacabado... Ora porra! Eu pensava que isso fossem apenas estereótipos com os quais os portugueses costumam auto-flagelar-se. Afinal, parece que esses adjectivos se respiram por aqui.

É claro que eles não viram o outro lado da "coisa", as maneiras, tão nossas, como nos sabemos divertir: os passeios ao Sábado à tarde nos centros comerciais, as noitadas à frente de Telejornais que nunca mais acabam a contar as histórias mais desgraçadas da noite de Natal, as barrigadas de chanfana e de bacalhau à Braz regadas com vinho maduro a saber a vinagre, as ultrapassagens "à queima" que fazem inchar a testosterona dos nossos automobilistas, a escarreta orgulhosa a mais de 2 metros fazendo tangentes e secantes a incautos transeuntes. E a Floribela. E o Gato Fedorento. E a neve na Serra da Estrela. E o fim-de-ano nas Caraíbas. E o espectáculo dos prédios da Baixa que caem como papel amarrotado. E os Morangos com Açucar. E os BMW que levantam a poeira com que se penteiam os sem-abrigo. E o crédito ao consumo. E o Figo das Arábias que nos faz roer de orgulho e de longínqua inveja.

É assim que nos divertimos. É disso que enchemos o nosso quotidiano e a nossa querida originalidade. Com tudo isso aconchegamos a nossa diferença. Somos portugueses como se é do Benfica: não precisamos de ganhar... Estamo-nos nas tintas para a alegria e para a tristeza dos outros. Os estranjas não perceberam nada, não penetraram nas subtilezas da alma portuguesa.

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