sexta-feira, julho 07, 2006

Sugestão

Porque quero que este blog seja um espaço de debate, vou passar a incluir aqui posts só com uma frase em jeito de "mote" para desenvolver uma troca de ideias e opiniões de quem a leia sobre o seu conteúdo. Começo hoje com:

A razão é inimiga da criatividade.

Fico à espera de comentários.

4 comentários:

Miguel disse...

É interessante a tua ideia. Faz-me lembrar a prova de filosofia do Bac (Baccalauréat) em França (equivalente ao 12o. ano). Essa prova é uma das mais importantes e deve ser feita por todos os estudantes. Também aí é proposto um tema geral que se deve desenvolver utilizando como referência os pontos relevantes do programa de filosofia. Em 2006, por exemplo, eis alguns dos temas: "Faut-il préférer le bonheur à la vérité?"; "L'intérêt de l'histoire, est-ce d'abord de lutter contre l'oubli?"; "Le sentiment de la justice est-il naturel?".

Após este preâmbulo, ataco de forma sucinta o tema que propuseste. Vou directamente à tese: acho que a razão não é inimiga da criatividade; será um dos seus ingredientes; "um" dos ingredientes, não "o" ingrediente... A ela se deve juntar a emoção. A criatividade faz parte da vida e a vida é uma mistura de razão e de emoção.

É-me dificil conceber a criatividade baseada exclusivamente na razão, isto é, sem emoção. Vejamos, por exemplo, o caso da descoberta de um novo teorema na Matemática. Creio que necessite de criatividade. Mas, tratar-se-à de uma criatividade baseada mais na razão do que na emoção. Contudo, presumo que um matemático se emocione tremendamente ao aperceber-se dos avanços que está a fazer no terreno da lógica até atingir o resultado desejado.

E a criatividade sem razão, baseada exclusivamente na emoção? Talvez se possa imaginar essa possibilidade. Há manifestações de arte experimental e de vanguarda que procuram exactamente atingir esse "ideal teórico", tentando libertar os artistas de todas as restrições racionais ou sociais, fazendo-os explodir no que de mais espontâneo, profundo e primário possa existir no ser humano. Procura-se ir ao fundo das pulsões e das emoções. Na pintura de Dali, por exemplo, às vezes tem-se a impressão de estar próximo desse resultado. De resto, a expressão artística é uma fonte inesgotável de sinais da psicologia dos seus autores, precisamente porque liberta coisas que a razão e as convenções escondem. Mas, continuo a pensar que não se pode dissecar o artista de forma a eliminar por completo o seu lado racional, pela simples razão de que é um ser humano, antes de ser artista.

Mas, o tema é complexo e existirão, certamente, maneiras diferentes e mais fundamentadas de o abordar.

Alice disse...

A minha ideia é que, se pensarmos muito, se racionalizarmos demais, às vezes as ideias não fluem tão bem ou, pelo menos, não têm o brilho das coisas que nos surgem espontaneamente. Acho que a criatividade tem muito de espontâneo e de instintivo. Contudo, a razão acaba por também pesar no processo criativo, como dizes, no sentido em que é inerente à natureza humana.

(E, já agora, achei uma ideia espetacular esse tipo de exames de filosofia em França.)

Francisco Castro disse...

Se me permitem (e como matemático) gostaria de deixar a minha opinião. Penso que o conceito criatividade pode ser ambíguo....explicando melhor; uma questão antiga na matemática é saber se o avanço desta resulta da criação ou da descoberta. Criação entendida como inventar algo de novo, Descoberta como encontrar (não gosto do achar dos brasileiros) algo que já existe. Na Matematica, eu penso, que o processo é mais de descoberta e (acreditem) é um processo com forte componente emocional no entanto a matriz é racional. Nao acredito muito que possa haver criatividade sem razão. As sociedades que assentaram (ou tentaram) na razão tornaram-se crueis, frias e profundamente totalitárias. Mas também acho que a emoção em excesso pode dificultar o processo criativo.

Um bom dia para todos

Anónimo disse...
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