Fui ver o filme "Romanzo Criminale" de Michele Placido, um realizador que se tornou conhecido em Portugal há uns anos pelo papel de actor principal na série "O Polvo". O filme deve ser visto. É uma história àcerca de um bando de criminosos extremamente violentos que puseram Roma a ferro e fogo nos anos 70 ("Banda della Magliana"). O pano de fundo é a situação política e social de Itália conturbada pelo terrorismo (assassinato de Aldo Moro, atentado de Bolonha) e pelas "ligações perigosas" do Estado "demo-cristão" com o mundo do crime. O filme mistura violência, amizade, traição, amor, generosidade, beleza, ódio, vingança. O amor e as mulheres têm um papel central na motivação dos protagonistas, no desmoronamento das certezas e dos impulsos dos criminosos. Muitas cenas desenrolam-se em sítios facilmente identificáveis e inesquecíveis... para quem conheça a cidade de Roma. É um filme que faz lembrar "Era uma vez na América" de Sergio Leone (o bando é formado por grandes amigos de infância que começam precocemente na pequena criminalidade) e "O Padrinho" (a partir de certa altura, o bando romano estabelece relações com a Mafia siciliana).
De facto, principalmente desde os anos 50, Roma tem sido abalada por actos de criminalidade muito violenta e, por vezes, organizada. Em Março, fui ver uma exposição fotográfica magnífica sobre o tema, proposta pela Câmara Municipal no centro S. Egidio em Trastevere. Ali se ilustravam casos famosos como por exemplo, para além da "Banda della Magliana", o assassinato de Pasolini, o rapto e assassinato de Moro, o massacre do Circeo (3 jovens da grande burguesia romana violam durante dias seguidos e acabam por matar 2 raparigas dos bairros mais degradados da cidade), etc. E vários desses crimes continuam impunes, sendo autênticos enigmas judiciários, parte integrante da Itália misteriosa dos não-ditos e das ligações inconfessáveis.
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