Hoje li n' A Ilha do Dia Antes o seguinte excerto do Expresso:
"Uma adolescente recusada para o casting dos «Morangos com Açúcar» ameaçou atirar-se do alto de uma falésia no Algarve se a Manuela Moura Guedes não aparecesse para a entrevistar para a TVI. Valeu-lhe uma técnica da segurança social que improvisou uma falsa equipa de tv para a entrevistar, argumentando que a jornalista estava ausente em parte incerta."
É certo que anda muita gente fascinada com a telenovela que sofre de má qualidade crónica, mas eu nem vou criticar, porque cada um tem os seus gostos... Agora, este caso já é obsessão, não só pela "Morangada", mas por toda a "cultura" que a TVI nos oferece, nomeadamente:
- pseudo-jornalismo extremamante sensacionalista;
- telenovelas com actores cujo critério de selecção foi tudo menos a sua qualidade de representação, e argumentos sem q mínima qualidade a ocupar o horário nobre;
- os famosos "Batanetes", "Prédio do Vasco", programas com o José Castelo Branco com um tipo de "humor" que abrange todos os preconceitos e estereótipos possíveis (louras, alentejanos, espanhóis, gays, mulheres ricas, negros, mendigos, etc...)
- o "Fiel ou Infiel", que dispensa qualquer tipo de crítica;
- os programas do Goucha, que pelo que vi numa publicidade, até entrevistam uma rapariga que foi vítima de abuso sexual pelo pai em conjunto com ele;
- séries boas como o Dr. House, têm direito a tempo de antena apenas a partir da 1.30 da manhã, e o espaço cultural também é transmitido, mas algures pela madrugada adentro.
Mas, apesar de tudo isto, não é a TVI a culpada pela obsessão da rapariga da qual o Expresso fala. Só vê quem quer, e só se deixa chegar a este ponto quem não é equilibrado.
De quem é a culpa?
8 comentários:
Acho que esse caso é simplesmente patológico; a TVI foi apenas um pretexto para fazer eclodir uma doença certamente latente; por isso, apesar de lamentável, não exagero a importância do caso; não é representativo de um fenómeno social. Pelo menos, assim espero... Quando se perfilarem dezenas ou centenas de pobres patetas à beira de altas falésias porque a televisão se recusou a fazer não sei o quê... aí fico deveras preocupado!
Seja como for, as televisões participam num fenómeno geral de obsessão com a notoriedade, com a visibilidade mediática, com a imagem e com a superficialidade. Quem não aparece, não presta, não é bom, esquece... O que conta não é tanto o que se faz ou o que se pensa, mas a quantas pessoas chegam os ecos desses factos. As televisões apenas cavalgam e reproduzem essa tendência a que Alain Minc chama o media-mundo (ver post http://fantasticomelga.blogspot.com/2006/02/o-declnio-das-lites.html#links).
Uma outra coisa que me escandaliza na televisão portuguesa é o comprimento dos telejornais. Como é possível um país com 10 milhões de habitantes ter notícias para mais de 1 hora em cada um dos canais de televisão, a começar ao mesmo tempo, enquanto países como a França, a Itália, a Espanha, a Inglaterra, etc., com muito mais habitantes e um protagonismo internacional incomparável ao de Portugal, têm telejornais que não duram geralmente mais de meia hora? Qual é a relevância da opinião da vizinha do lado do Primeiro-ministro àcerca da côr do Mercedes do dito-cujo? Porque é preciso escarafunchar tanto na desgraça e na miséria? Porque é preciso multiplicar reportagens em pleno telejornal àcerca de factos que justificariam talvez programas à parte? Dir-se-à que esta oferta só se justifica porque há uma procura insaciável por este tipo de "jornalismo". Mas será mesmo assim? Não se tratará de concorrência desenfreada e espúria? E as televisões não terão um dever de "educação" da opinião? Não é a isso que se chama "serviço público"? Ou teremos de continuar a assistir à rendição incondicional à capacidade do mercado em deixar tudo na mesma porque assim desejam os consumidores?
Não considero o caso da adolescente algo digno de registo ou de tão profunda análise. No seguimento do que escreveu Miguel: há gente para tudo!
Quanto a tão crítica lista não lhe dou nenhuma novidade quando digo:
Será que o que não temos, verdadeiramente interessa o português?
O telespectador português mente. Nos inúmeros estudos de mercado que são feitos aos gostos das audiências, os portugueses reinvidicam documentários, informação credível, séries laureadas, debates profundos..aliás, 70% dos portugueses afirma ver diariamente o canal dois! Será então possível que a RTP 2 continue a oscilar entre os dois e os cinco por cento das audiências. Dá que pensar! O português quer uma coisa, mas para não parecer mal pede outra. Resultado: leva ainda pior.
Quantos de nós em Portugal lemos de forma regular revistas/jornais ou vemos algo na televisão que nos possa verdadeiramente ensinar? Procuramos saber? Se calhar, é mais fácil dizermos que não gostamos, que não queremos. Em tudo há do bom e do mau. A TVI tem, felizmente, os seus méritos, infelizmente, muito poucos...por exemplo, o jornal que afirma ser de pseudo-jornalismo é o que em Portugal oferece a informação mais rigorosa no que concerne assuntos internacionais. É óbvio que as falhas na informação nacional desse mesmo canal são enormissímas, algumas horrendas, até. Mas também é um facto que canais "pseudo-intelectuais" porque assim o querem depreender uma ou outra fatia da sociedade, como o SIC Notícias são incapazes de uma informação digna. Os seus jornalistas, salvo raras excepções, não sabem o que escrevem, nem o que dizem. Tome de exemplo o triste episódio do Tsunami. Três dias após a catástrofe, o mesmo canal, que se diz sério e digno, continuava a insitir que o tsunami tinha afectado o "sudeste asiático". Ninguém naquela casa, teve sequer a ombridade de olhar para um mapa na tentativa de distinguir o sudeste, do sudoeste! Mas uma vez mais não faz mal...os portugueses não precisam de saber onde fica o quê, pois nunca pensam até onde querem ir.
" (...) os portugueses não precisam de saber onde fica o quê, pois nunca pensam até onde querem ir." - Cada um fala por si!
A cena é, sem margem para dúvida, lamentável!
Agora de quem é a culpa? - Não me vnham dizer que a culpa é da tvi por ter este ou aquele problema que não gostamos! Pelo amor de Deus! A culpa é dos pais que não acompanham os seus filhos em nada! Cada vez mais se vêem cenas destas e muitas vezes ouvimos - "o meu filho era incapaz de fazer uma coisa destas".
Não gosto de generalizar as minhas opiniões porque, felizmente, existem muito bons pais que não merecem estar englobados nesta definição, mas também não é caso para culpabilizar o canal de televisão.
Aliás eu não consigo bem perceber o porquê de tanta crítica a esta novela (não falo neste post, mas em outros e de outros blogs).. É que, melhor ou pior - dependendo dos gostos - ela retrata casos bem reais e casos que nos fazem estar em alerta! Agora também acho que, se não a vês, não a deves criticar!
Continua na minha teoria - A culpa é dos pais!
- Onde é que eles estavam quando a miúda se quis atirar de uma falésia?
...
Catarina:
Disse no seu comentário: "Será que o que não temos, verdadeiramente interessa o português?"
O que disse tem todo o sentido, excepto a generalizção que fez. Eu, e algumas pessoas que conheço, ainda somos daqueles que mal vêm os quatro canais... Porque não há, na televisão portuguesa programação de interesse para mim. (Nem acho que a 2 seja um canal propriamente interessante.)
O que se passa é que em vez de alternativas ao que existe, a RTP, a SIC e a TVI procuram fazer concorrência entre si com a mesma oferta (ou semelhante). É triste, mas os critérios de programação fazem-se pelo "share" e não pela qualidade.
Anónimo:
engana-se numa coisa: eu não vejo os "Morangos" porque vi umas poucas vezes e sempre que vi abominei, pela má qualidade da interpretação a pobreza dos temas, a ficção desmedida em algo que tem como objectivo retratar a realidade. Portanto, enquanto ser pensante tenho todo o direito ao meu juízo crítico a respeito de algo que já observei.
E tem razão, a culpa é, em parte, dos pais: porque não ensinam os filhos a ter personalidade própria, deixando-os assim ser educados por outros. Neste caso a TVI.
Anónimo,
eu não tenho por hábito ver os Morangos com Açúcar, mas já vi algumas vezes e, quando estou em férias e há pouco que fazer, sou capaz de dar uma espreitadela, precisamente para depois poder ter moral para criticar. Por isso, não concordo quando diz que "ela retrata casos bem reais e casos que nos fazem estar em alerta!". Não sei se é jovem, se não, mas eu sou-o e posso garantir que a grande maioria das coisas que se passam naquela série nada têm a ver com o que é a minha vida ou a das pessoas que eu conheço. Aquilo é completamente irreal e vê-se que é o esforço de pessoas mais velhas (como são os guionistas e argumentistas da mesma) tentarem retratar os jovens de uma maneira fixe, falhando redondamente. Se, por vezes, a novela aborda temas importantes, fa-lo com uma leveza e simplicidade incríveis que, na minha opinião, não esclarecem nem trazem nada de novo ao assunto. Acho que se tornou num fenómeno tão grande de audiências entre os jovens porque os que os vêem gostavam que as suas vidas fossem assim: com muitos amigos, pessoas bonitas, roupas da moda, sol, praia, aventuras sempre a acontecer, etc... Mas a realidade é bem diferente (e melhor, felizmente).
bem..k dizer... como referi no caso do pedro, a noticia NAO foi bem assim pelo k eu soube... mas k de facto os "morangos" geram multidoes ninguem duvida!!!! aconselho a menina a uma rapida vista de olhos À noticia em mais locais (se possivel, claro...) *
DESCONHECIDO-1
Tambem concordo com o nuno, a noticia nao foi bem assim!
e para que saibas, a tvi até retratou no programa da manhã, essa noticia.. mais uma prova que a tvi tem consciencia que não teve culpa em nada do que a miuda queria fazer, senão nem tinha tocado nesse assunto..
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