Fui ver o filme aqui ao lado (link). Talvez nunca passe em Portugal. É francês e fala de uma realidade global (a que chamarei corrupção de Estado) nos seus contornos típicamente franceses. Por ser demasiado franco-francês talvez não seduza os distribuidores portugueses. É pena... porque o tema também nos interessa.
É um filme que abre advertindo que todas as semelhanças com a realidade serão puras coincidências. Essa frase é estupidamente irónica e divertida porque o paralelismo com o caso da companhia petrolífera Elf que abalou o "establishment" gaulês aqui há uns anos é óbvio e suscitou comentários jocosos na crítica e na imprensa parisiense. Chabrol diverte-se de vez em quando a brincar com o fogo de uma forma nem sempre conseguida.
Colocando em risco a sua própria vida privada, uma juiza tenaz, honesta e competente (protagonizada por Isabelle Huppert) tenta levar até às últimas consequências uma investigação sobre actos de corrupção praticados por altos dirigentes de grupos económicos detidos pelo Estado. Os corruptos contam com a cobertura do aparelho político a pretexto da defesa dos interesses nacionais. O dinheiro circula secretamente entre Estados e indivíduos de várias estirpes numa promiscuidade considerada essencial para o bom funcionamento do "sistema". A juiza acaba por ser "desencorajada" pelas próprias instâncias judiciais a partir do momento em que começa a atingir níveis demasiado elevados e vitais desse mesmo "sistema". É acusada de não querer entender as "regras do jogo" por um político que move os cordelinhos mas que permanece sempre na sombra.
Deve referir-se que ainda há pouco tempo a administração francesa foi chamuscada por um caso de pagamento de luvas milionárias a dirigentes de Angola para beneficiar as empresas francesas na prospecção e exploração do petróleo do mar angolano.
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