Postal de Amesterdão

A maioria dos holandeses são divertidos, bem-dispostos, simpáticos e tolerantes. Alguns tratam imigrantes portugueses incautos como se fossem escravos. Mas, quero acreditar que isso seja uma excepção... Os Holandeses também foram grandes piratas e enriqueceram nos séculos XVI e XVII a traficar essencialmente mercadoria alheia. A Indonésia foi colónia holandesa. Também chegaram a ocupar cidades da costa do nordeste do Brasil, como por exemplo S. Salvador da Baía.

Adoram côr de laranja e apoiam ruidosamente a equipa nacional de futebol. Os “fétiches” nacionais são os moinhos, as tulípas, as tamancas de madeira, as vacas, os diamantes, a Rainha Beatriz, a Philips e… a planta de cannabis. A Holanda foi um dos primeiros países do mundo a legalizar o aborto, o casamento entre homosexuais, a eutanásia, o consumo de drogas leves, a prostituição. A Holanda esteve no centro da Reforma e acolheu muitos judeus em fuga dos países da Santa Inquisição. Teve grandes expoentes das artes e da filosofia como Erasmo, Espinoza, Rembrandt e, mais recentemente, Van Gogh (1853 – 1890).

É um país protestante. O protestantismo, como procurou demonstrar Max Weber, é uma religião favorável ao desenvolvimento capitalista. O sucesso, a iniciativa, o enriquecimento material, o apetite pelo risco não são pecados. Pelo contrário, são meios de glorificar Deus sobre a Terra. Os holandeses dizem que “Deus fez o Mundo, mas os holandeses fizeram a Holanda” porque a maior parte do território foi conquistado ao mar através de um sistema complexo de diques e de canais. São especialistas em obras de hidráulica.

A capital é Amesterdão e não Haia, como algumas pessoas pensam. Situa-se abaixo do nível do mar e as construções são assentes em estacas enfiadas a grande profundidade no terreno húmido e arenoso. A cidade é lindíssima. Estende-se ao longo de uma extensa rede de canais, mais ou menos concêntricos. Amesterdão sintetiza bem a Holanda. De um lado existe o “Red Light District” com todo o seu rosário de transgressões, de outro existem os edíficios burgueses, rigorosos, debruçados sobre os canais, de um requinte e de um bom gosto discretos. As igrejas protestantes e museus ficam paredes meias com pequenos bares e salas de chá onde convivem grupos e casais de todas as tendências sexuais.

Os Holandeses têm um grande defeito: são forrêtas (talvez não tanto como os escoceses!). No Verão, enchem as auto-estradas entre a Holanda e o sul da França com caravanas e roulottes, transportando a casa às costas para não gastar em hotéis e restaurantes. A Holanda é um dos países europeus com nível de vida mais elevado, com melhores sistemas de ensino, de saúde e de segurança social. Têm conseguido salvaguardar o essencial do Estado-Providência. Quase todos os holandeses falam inglês (também com uma lingua daquelas... que mais parece alemão com catarro...). Mas, o sistema de ensino é pouco permissivo relativamente ao insucesso escolar. As crianças que “ficam para trás” são predestinadas a “profissões menores”. A pressão dos pais sobre a prestação escolar dos filhos é intensa. A taxa de desemprego é razoavelmente baixa, mas os empregos criados nos últimos anos têm sido, na sua maioria, precários. As agências de trabalho temporário florescem. Os holandeses parecem viver de uma forma tranquila com essa “flexibilidade”.

A Holanda tem fronteira a leste com a Alemanha. Em geral, os holandeses não gramam os alemães porque sofreram bastante com a ocupação nazi, particularmente, a numerosa população de origem ebraica. Em Amesterdão existe a Casa-museu de Anne Frank. A não perder: um memorial eloquente ao Holocausto.