terça-feira, janeiro 17, 2006

O génio e o resto


A génese do Requiem de Mozart, uma das obras mais fantásticas da música clássica, para côro e orquestra, foi rodeada de circunstâncias algo misteriosas e rocambolescas que demonstram como o génio, a cupidez e a avareza se podem misturar.

Em 1791, o Conde von Walsegg Stuppach encomendou um Requiem (a Mozart) para homenagear a memória de sua esposa que tinha falecido em Fevereiro desse ano. A encomenda, porém, foi feita por interposta pessoa e em anonimato, porque o Conde pretendia apropriar-se da obra e fazê-la passar por sua. Na verdade, não seria a primeira vez que plagiava peças de música. Tinha a mania da composição, a ambição de ser um grande músico, mas não era absolutamente dotado para o efeito. Então, a sua "composição" limitava-se a apôr o nome em trabalho alheio. Mozart aceitou o "desafio", essencialmente, porque lhe pagavam 50 ducados adiantados (metade do preço total) e as suas dificuldades financeiras eram mais do que muitas, como acontecia com frequência. Deve acrescentar-se que a vocação de Mozart para escrever peças religiosas não era evidente, até porque eram conhecidas as suas tendências maçónicas.

Mozart faleceu em 5 de Dezembro de 1791... sem terminar a obra. De facto, faltava cerca de uma terça parte e, portanto, a viúva não podia entregá-la ao “cliente” pelo dinheiro combinado. Assim, pediu a Franz Süssmayr que acabasse o trabalho. Este compositor tentou assegurar a homogeneidade do conjunto, inspirando-se também em esboços deixados por Mozart. No entanto, nota-se ainda um certo desequílibrio entre vários trechos. A viúva pôde finalmente receber os 50 ducados que faltavam do intermediário do Conde e este apresentou o “seu” Requiem ao público no dia 14 de Dezembro de 1793.

Celebram-se dentro de poucos dias os 250 anos do nascimento de Mozart (27 de Janeiro 1756).

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