A cimeira de Davos deste ano é um exemplo acabado da agilidade do capitalismo para internalizar/metabolizar causas que, em princípio, questionam a sua lógica. O capitalismo tem demonstrado uma incrível capacidade para fazer golpes de rins e driblar os factores da sua contestação. Adapta-se, actualiza-se, transforma em lucro, em publicidade, em moda o que seriam motivos do seu desaire. Foi assim com o ambiente e com as energias renováveis: agora dão lucro. Foi assim com a agricultura biológica: agora dá lucro. É assim com a dívida do Terceiro Mundo. É assim com a luta contra a SIDA. Bono dos U2 foi a Davos promover um fundo mundial que representará cerca de 1/4 do financiamento das acções de luta contra a doença. Bill Gates foi a Davos reforçar a sua doação para combater a tuberculose. Brad Pitt também lá foi com a nova namorada (ou mulher ou o que quer que seja) fazer propaganda a favor de uma causa qualquer de que não me lembro.
A Davos podem ir todos, até os contestatários. Qualquer dia, organizar-se-á uma unica cimeira mundial que juntará presidentes dos maiores grupos económicos mundiais e os líderes mais carismáticos do movimento altermundialista. Poderá fazer-se um "melting pot" que desdramatizará os protestos e que provará a tolerância do capital, a sua disponibilidade para transformar em forças as suas fraquezas. Já dizia Schumpeter que as revoltas estudantis são, não uma ameaça letal, mas sim um elemento de vitalidade e inovação do sistema capitalista. De facto, onde se encontram hoje os grandes revoluionários de 68 ou (em Portugal) dos anos quentes do PREC?
Fico cada vez mais deslumbrado com a magnifíca capacidade acrobática do capitalismo que sempre encontra novas alquímias para emergir reforçado do que parece ser a sua enésima "crise final".
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